Terça, 2 de agosto de 2011

Acorda, imprensa
Dinho Daudt, jornalista

Quando leio, opiniões com escasso conhecimento sobre certos temas abordados, ponho minhas barbas de molho e fico de cara. Essa de chamar motor a jato (Jet engine) de avião, de turbina, nas matérias ligadas geralmente a acidentes de aviação, é uma delas, que bem poderia já ser revista. E evitada. Demorou. Pra mim, talvez a mais ridícula, há horas. Turbina, para os menos informados sobre aeronáutica, é peça componente de um motor. E pronto. Chamar o motor de avião a jato de turbina é mico.
 Outra é no caso das devidas indenizações a perseguidos, torturados, presos e famílias dos que foram assassinados e desaparecidos pela ditadura pós 64.
Vejo habitualmente opiniões repetidas que têm por base, invariavelmente, as exceções. Matérias com enfoque pejorativo de escândalo pecuniário, sempre passadas às redações, há anos, sempre que alguém prejudicado em sua vida, seu emprego, seus direitos, recebe indenizações por ter sido injusta e arbitrariamente prejudicado pelo terrorismo de estado, instalado pela ditadura.
Em sua esmagadora maioria recebem no máximo 100 mil reais, (equivale a um quarto e sala de subúrbio) e direito a uma aposentadoria digna do cargo ou posto que teriam quando rasgaram seu concurso, seu caminho ao meio e a Constituição.
Por haver sido torturado ou morto com pés e mãos amarrados, aqui mesmo em nossa linda Porto Alegre, a família do sargento Soares recebeu por volta disso, como indenização pelo barbarismo cometido ao ente querido. E daí ninguém acha escandaloso? Nem se preocupam em levar à cadeia os assassinos. Outros milhares de casos seguem a mesma linha e, infelizmente, os processos de indenização levam cerca de 10 anos ou mais.
Incentivado pelo ranço anacrônico que ainda existe encrustrado nas entranhas do podre poder, o governo aposta na morte miserável das vítimas que ele próprio fez, desrespeitando direitos e a dignidade humana. Essa é a realidade. O preconceito contra quem lutou pela volta da democracia nasceu, criado e incentivado por antigos vassalos do regime militar. Se você é descomprometido, caro jornalista, acorde! Mude este conceito pré estabelecido pela direita. Troque fonte, se preciso for, mas busque a verdade e escreva corretamente a história. Como no caso da “turbina”.

O que sai caro é a ditadura
O que sai caro, não é o valor pago nas indenizações aos perseguidos pela ditadura. O que sai caro é a ditadura. Esta a explicação essencial que falta ser dita com clareza aos brasileiros. A ditadura, esta sim, deve ser evitada a qualquer custo, pois senão acaba saindo muito cara, principalmente quando se deixa de lado a procura e cobrança dos responsáveis, ou seriam irresponsáveis, pelo arbítrio praticado.
Os que deram o golpe de 1964 e em seu nome exerceram o poder ditatorial por décadas, recebendo benefícios vindos do exterior e do Governo, nomeações, promoções, aposentadorias e favorecimentos que perduram garantidos por lei que os considera “anistiados”. Estes devem ser condenados a ressarcir o Estado, que procura receber vantagem, hoje, negando através da barganha e cortes radicais, direitos e indenizações dos que não praticaram crime.
Por que não mostram a cara dos verdadeiros culpados, nem que seja para o povo identificá-los como responsáveis pela dívida social e financeira devida à Nação?
Tem até monstros entre eles, sabiam? Distribuam seus nomes à imprensa. Digam quanto ganharam e ainda recebem em dinheiro vivo por terem tirado o emprego de milhares de brasileiros, ficado com suas vagas, terem perseguido, torturado, e dado sumiço em tanta gente.
E o que se constata ainda é apresentação à imprensa e à sociedade de um lado só da moeda, que insiste em colocar a população contra a anistia e refratária no reconhecimento ao direito e à dignidade dos que lutaram contra o regime de exceção.

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