Na década de 80 trabalhei pouco mais de 3 anos na Zero Hora.
Nas viagens sempre tínhamos duas preocupações: encontrar um telex para passar o material e conseguir notas para justificar as diárias. Era um inferno, aquele negócio de pedir nota em tudo que era lugar. Uma vez fui ao Rio e no avião estava o deputado estadual Renan Kurtz. Nos falamos na esteira das malas e ele perguntou para onde ia. Fomos no mesmo táxi, naqueles pré-pagos, para Copacabana. Claro, eu de carona.
Antes de chegar no hotel dele, perguntei se precisava do tiquete.
Ele não queria e pra mim aquilo era uma joia. Quase uma diária.
Parecia um esquema seriíssimo do jornal, mas anos depois soube que a responsável pelo controle das diárias tinha dançado porque liderava uma falcatrua. Sei lá.
Anos depois, morava no Rio e por problemas que agora não interessa voltei para Porto Alegre. Para trabalhar na Assembleia. O cargo era uma maravilha, sub-chefe da Assessoria de Imprensa. Grana muito boa.
Só tinha um problema: da nomeação até receber o primeiro salário, no mínimo, 3 meses.
E eu ali, trabalhando, e a Rute grávida. E o aluguel rolando, no supermercado não tinha mole, uma encrenca.
Até que um diretor matou a charada:
– Não te preocupa, toda sexta-feira tu vais tirar 3 diárias e dá para passar a semana. Para aluguel a gente consegue diárias para fora do Estado.
Assim consegui sobreviver os 3 meses, até receber o primeiro salário.
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Infelizmente era assim e deve continuar o mesmo esquema. Se não é assim, parecido.
Por culpa unicamente das burocracias idiotas, que existem em todas as esferas públicas.
E não é só na função pública.
Há muitos anos que no Rio e em São Paulo, na Rede Globo, tem – ou tinha – um esquemão, que funciona dentro da própria empresa, para fornecimento de notas fiscais frias. Princxipalmente nas viagens ao exterior. Não me peçam detalhes, por favor!
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Vira e mexe volta esse papo de diárias dos deputados estaduais.
Olha esses dois parágrafos de uma matéria do Paulo Germano, na Zero Hora de hoje:
Após um acalorado debate que reuniu a Mesa Diretora e os líderes de bancadas, as regras pouco mudaram na Assembleia Legislativa: para receber uma diária de R$ 466 ao viajar, basta o deputado apresentar uma nota fiscal de qualquer valor, apenas comprovando que esteve fora da Capital. Entre os 21 presentes, só três parlamentares defenderam o ressarcimento sobre o que efetivamente fosse gasto nas viagens.
A tentativa de mudança foi liderada pelo presidente da Casa, Adão Villaverde (PT), mas apenas Valdeci Oliveira (PT) e Raul Carrion (PC do B) o apoiaram. Não foi uma derrota completa porque outra bandeira de Villaverde acabou aprovada: a divulgação, no site da Assembleia, dos valores das notas fiscais apresentadas pelos deputados que viajam. Em nova reunião na próxima semana, o grupo decidirá a partir de quando esses dados estarão disponíveis.
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Uma discussão boba, irrelevante, porque deve-se considerar que um deputado estadual não vai se sujar por menos de 500 pilas. Só se o cara é um bestalhão total para entrar numa mesquinharia dessas. Quer dizer, o deputado pode apenas apresentar uma nota fiscal, mas também pode apresentar as notas de TODAS as suaas despesas, não? Depende do caráter de cada um.
Ou estou errado?
Se tem um mutreteiro é fácil encontrá-lo – basta conferir se o cara apresenta APENAS uma nota em cada viagem.
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1- Eu nunca disse nem escrevi que defendo qualquer tipo de escândalo. De novo: eu não vejo o assunto FGF como escândalo. E quando fazes um paralelo com os impostos percebo o quanto os teus poros já estão fechados para um possível entendimento. Impostos são obrigações dos contribuintes. Já compra de ingressos para assistir espetáculo, não. Aí, quem decide é o consumidor. Ele é quem decide se deve ou não ir aos jogos.
Abração
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Gilberto, meu querido, isso não é eficiência. É picaretagem.
Pedro Czarnina diz:
O negócio da FGF pode ser legal, como sustenta o senhor Gilberto. Mas, não poderíamos classificá-lo como amoral ou imoral?