Ferro e Mais Ferro – 21 novembro

ONG, PRA QUE TE QUERO

Clóvis Heberle – http://clovisheberle.blogspot.com
Apesar da sua
esperteza, charme e das boas relações com gente do governo, a vida de Victor era
uma sequência de altos e baixos. Mais baixos que altos. Seus empreendimentos
nunca davam certo, e ele acabava dando o calote em quem acreditava – e colocava
dinheiro – neles. Acabou no fundo do poço: teve que se evadir da cidade e do
Estado onde morava “na calada da noite” para fugir de credores, na maioria
amigos que por ingenuidade caíram na sua conversa.
Graças à sua esperteza e às boas relações com gente do
governo, Victor – o C foi incluído por ele para dar charme ao nome – deu a volta
por cima. Numa dessas noites de insônia, fez uma pesquisa no Google e descobriu
que o governo, assim como empresas e associações, financia Organizações Não
Governamentais. Pergunta daqui, pergunta dali, ficou sabendo de que havia pouca
ou nenhuma fiscalização sobre os recursos públicos liberados para essas
organizações.
Era tudo que ele precisava. Fundou a ONG Trampas &
Tramóias e conseguiu dinheiro para, agora sim, tocar seus projetos sem
preocupações.
O
primeiro deles era genialmente simples: ensinar as crianças a brincar e fabricar
brinquedos como faziam os seus pais e avós, tirando-as da frente das telas de
computador, com seus jogos em rede e os perigos da internet. A proposta,
aprovada com a ajuda de funcionários influentes estimulados pela possibilidade
de ganhar parte dos ganhos, realizava o milagre de crianças fazendo bolas de
meia, pandorgas, petecas, bonecas de pano e carrinhos de rolimã, para brincar em
locais limpos e seguros, com a assistência de jovens com aventais. Para
justificar os R$ 149 mil mensais recebidos para as despesas, que incluíam a
alimentação da meninada, tudo era documentado em videoproduções onde tudo era de
araque.
Paga a equipe de produção e distribuídas as
propinas, não sobrava muito para o diretor, apesar de já ter permitido a compra
de um bom carro, uma cobertura e a contratação de empregados para os serviços
domésticos (os supostos funcionários da ONG).
Com
criatividade, persistência e muita lábia, expandiu os seus negócios – digo –
projetos, que pipocavam em várias regiões do país, obrigando-o a utilizar aviões
particulares em seus deslocamentos, eventualmente em companhia de algum alto
funcionário do ministério visado, e até do ministro.
A vida
particular do nosso herói também deu uma virada, para melhor. Depois de
rejeitado pela esposa, cansada de suas falcatruas, Victor se conformara em
seduzir mulheres feias que garantissem as suas despesas básicas – casa, comida,
roupa lavada e alguns trocados. Agora, não. Desfila com uma socialaite recém s
eparada de um empresário falido, e está com bala na agulha para bancar o último
capricho dela: passar uma temporada naquele hotel dos Emirados Árabes construído
sobre uma ilha artificial em forma de palmeira.
Bom, parte
da viagem será a trabalho: negociar a importação de camelos para passeios
culturais de turistas pelas dunas do litoral brasileiro, do Cassino a Genipabu,
o seu mais recente projeto, já aprovado…

As
Organizações não governamentais (ONGs) atualmente significam um grupo social
organizado, sem fins lucrativos, constituído formal e autonomamente,
caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo
legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das
condições da cidadania.[1] Porém seu conceito não é
pacífico na doutrina, e com muitas divergências. Fazem parte do chamado
Terceiro
setor
.
Essas
organizações, quando sérias, podem complementar o
trabalho do
Estado, realizando “ações onde ele não consegue chegar “, podendo receber
financiamentos e doações dele, e também de
entidades
privadas
, para tal fim.

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