FIM DE SEMANA NO PRÉVIDI – 18/3/2012

MÍDIA AMIGA

Saiu neste fim de semana no La Nación de Buenos Aires.
(ainda bem que não tem nada a ver com a gente, né? Hahahahaha!!!!)

—–

Câmeras no chão

No FB:
Os fotógrafos e cinegrafistas que cobriam o Palácio do Planalto,
fizeram este gesto de rebeldia diante do chefe supremo da nação quando
este descia a rampa do Palácio numa terça-feira de 1984. José de Maria
França, escolhido por seus colegas para registrar esta cena, fez a foto
do outro lado da rampa.
Tudo começou semanas antes. Final do governo Figueiredo: começo do fim do regime
militar. Faltava menos de um ano para a eleição do sucessor do general
João Baptista Figueiredo e embora a eleição fosse indireta, através do
Colégio Eleitoral, pela primeira vez em 20 anos, o presidente militar ia
ser substituído por um presidente civil. O partido do governo, o PDS
(ex-Arena), havia escolhido em sua convenção o candidato Paulo Maluf,
ex-governador de São Paulo para ser adversário de Tancredo Neves,
ex-governador de Minas Gerais, candidato do PMDB, a oposição na época.
Figueiredo detestava Maluf, apesar de serem do mesmo partido, O
candidato preferido do presidente, o ministro Mário Andreazza, havia
sido derrotado na convenção do PDS. Na primeira audiência de Figueiredo
com o “presidenciável” Paulo Maluf, o presidente estava visivelmente mal
humorado. Ao ver que alguns fotógrafos já se encontravam dentro do
gabinete presidencial, Maluf disse a Figueiredo, “Sorria Presidente”! E o
presidente respondeu: “estou na minha casa e fico como eu quero”. Ao
retornarem ao comitê de imprensa, os fotógrafos que presenciaram aquela
cena passaram a informação aos repórteres de texto e aquele diálogo, no
mínimo engraçado, foi para a primeira página dos principais jornais do
país. Ao ler as manchetes na manhã seguinte o presidente irritado disse
que não houve tal diálogo e que os fotógrafos eram mentirosos. Ser
fotógrafo do poder em Brasília significa estar no olho do furacão da
política e desempenhar ali o papel duplo de testemunha e personagem
intruso que nem sempre tem autonomia para se mover na cena dos
acontecimentos. Até esse dia, os militares acreditavam que
repórteres-fotográficos eram seres que tinham olhos, mas eram
desprovidos de ouvidos e boca. Em represália, Figueiredo proibiu o
acesso de qualquer fotógrafo ou cinegrafista ao seu gabinete e as poucas
chances de fotografar o presidente praticamente se reduziram ainda
mais.
Durante o período de proibição que durou alguns meses,
somente o fotógrafo oficial do Palácio, Roberto Stuckert pôde registrar
as audiências. A única oportunidade que os fotógrafos tinham para
documentar o presidente era na rampa do Palácio, onde o presidente
Figueiredo subia e descia todas as terças feiras. Pois foi justamente
numa dessas oportunidades que os repórteres-fotográficos e
cinematográficos tentaram mostrar ao presidente o quanto era importante a
fotografia no jornalismo do dia-a-dia como instrumento de registro de
nossa história. E num ato de protesto, no momento em que Figueiredo
descia a rampa, todos os fotógrafos e cinegrafistas colocaram as suas
câmeras no chão diante do presidente e não fotografaram o acontecimento.
O fotógrafo do Jornal do Brasil J. França, foi escolhido pelos colegas
para fazer a foto do protesto e distribuir para todos os jornais. O
protesto virou noticia nacional.

Participaram do protesto, de
acordo com a aparição na foto, da esquerda para a direita: Moreira
Mariz, Antônio Dorgivan, Adão Nascimento, Cláudio Alves, Sérgio Marques,
Julio Fernandes Francisco Gualberto, Sérgio Borges, Beth Cruz, Élder,
Miranda e Vicente Fonseca , o Gaúcho. Eu, que na época era presidente da
União dos Fotógrafos de Brasília, estava no outro lado da rua, pois eu
não era credenciado na Presidência da República, e por solidariedade ao
protesto eu não fotografei. Hoje até me arrependo de não ter
fotografado, afinal eu não era personagem do protesto apenas estava do
outro lado da rua me solidarizando com o ato, mas tenho muito orgulho de
ter presenciado ao vivo esse protesto histórico e guardar esta imagem
muito viva em minha memória.

André Dusek

Essa e outras histórias no www.fotocolegiunhas.com

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