Do Clovis Heberle – http://clovisheberle.blogspot.com.br/
Este mar de águas límpidas e azuis da foto acima não é do Nordeste nem do Caribe!
Acredite: durante dois a três meses por ano, a costa do
Rio Grande do Sul – uma faixa de
areia de 700 quilômetros sem baías nem penínsulas – fica livre das
águas geladas e turvas vindas da Antártida.
A responsável por este milagre,
que geralmente acontece entre fevereiro e abril, é a Corrente do Brasil,
uma espécie de rio salgado de água morna que atravessa o Atlântico e
desce pelo litoral brasileiro do Nordeste até a fronteira com o Uruguai,
quando toma novamente a direção da África.
Do outono até o início do verão, a
água da costa brasileira, até a altura de Cabo Frio, no Rio de
Janeiro, é gelada por causa da Corrente das Malvinas.
O mapa abaixo mostra a movimentação das correntes marítimas pelos oceanos.
Para ampliar o mapa, clique duas vezes sobre ele
Foi por causa da Corrente do
Brasil que, no verão de 1988, milhares de latas de maconha de altíssima
qualidade, com uma concentração de THC sete vezes maior do que
a brasileira e a paraguaia, prensada com mel e glicose, chegaram às
praias brasileiras abaixo do paralelo 20. Estavam no navio Solana Star,
de bandeira panamenha, procedente de Cingapura. Seu destino era um
porto dos Estados Unidos, mas em setembro de 1987, quando passava pelo
litoral do Rio de Janeiro, teve problemas mecânicos e precisou de
reparos. Temendo uma abordagem e aprensão pela polícia brasileira, seus
tripulantes, jogaram a carga de 20 mil latas ao mar, a 100 milhas da
costa, levaram o navio até o porto do Rio durante a noite e o
abandonaram. Só o cozinheiro, o norte-americano Stephen Skelton, estava a
bordo quando as autoridades portuárias invadiram a embarcação. Ele foi
preso e condenado por tráfico.
Hermeticamente fechadas para
conservar a qualidade do “produto”, as latas começaram a chegar em
janeiro às praias do Espírito Santo, Rio, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e, por último, do Rio Grande do Sul. Desde aquele verão, a
expressão “da lata” foi incorporada à gíria brasileira com o sentido de
algo muito bom, especial, de primeira.
O Solana Star foi apreendido e leiloado. Depois de uma reforma, transformado em pesqueiro, recebeu o nome de Tunamar,
mas seu destino foi trágico: naufragou ao largo de Cabo Frio em sua
viagem inaugural, de Niterói a Santa Catarina, na noite tormentosa
de 11 de outubro de 1994. Dois tripulantes morreram e nove, que
dormiam, ficaram desaparecidos dentro dele. Um triste fim para o navio
que proporcionou à moçada da época um verão inesquecível: o verão da lata.
Prévidi: pelo visto não fostes a Oeisis Internacional na Páscoa. Simplesmente fantástica a água do Atlântico. Quente, esverdeada na orla e azulada mais adiante. Sem vento.