GENOCIDAS,
DITADORES E
TORTURADORES – 2
Na semana passada recebi um comentário de um “anônimo”. Não costumo publicar esse tipo de coisa, mas o cara escreveu bem.
Leia:
Triste que passados tantos anos do golpe de 64, ainda haja um pessoal que parece que só consegue ver o golpe sob o prisma do maniqueísmo típico do “Guerra nas Estrelas”: de um lado os bonzinhos; do outro, os malvados. Patético, não?
Claro que esse maniqueísmo encerra uma chantagem, pois realmente não desejam que se jogue luzes naqueles anos de chumbo, porque, hoje, como “respeitáveis” cidadãos de provecta idades, não querem ter sua biografia “manchada”, apoiando, então, o fato de que o Brasil seja o único país no mundo que não acerte contas com seu passado – ao contrário de outras nações.
Não são só as latino-americanas (Argentina, Chile, etc.), mas também europeias (Romênia, Polônia, etc.) e asiáticas (Cambodja, Coreia do Sul e outros). Videla, Ceausescu, Pol Pot, generais-presidentes sul-coreanos. Todos esses governantes – sejam de esquerda ou de direita – foram pro xilindró.
—
Não costumo ler Elio Gaspari, mas gostei desse início de uma coluna dele:
A Comissão da Verdade não poderá rever a Lei da Anistia, mas poderá desmontar quase meio século de mentiras com as quais os brasileiros são obrigados a conviver. Quem tem hoje menos de 43 anos ainda não nascera em 1969, quando a tortura foi transformada em política de Estado pela ditadura.
—
Bem intencionado o anônimo, mas incompleto.
O colunista Elio, na sua arrogância tradicional, é daqueles que pensa assim: se o cara nasceu depois de 1888 não sabe o que é escravidão. Viu só? Se a pessoa tem menos de 43 anos não tem ideia das torturas da ditadura.
—
Esse tem muito que contar!! |
Olha, anônimo, só te dou dois exemplos de genocidas que têm seguidores em todo o mundo, inclusive muitos no Brasil: Stalin e Mao. O primeiro anjinho matou no mínimo, 20 milhões; o outro, mais de 70 milhões. Nem falo no Hitler – 40 milhões – porque este oficialmente não pode ter adoradores.
Não foram para o xilindró e continuam pintados como heróis por muitos idiotas.
Aqui, nós não temos generais-ditadores para mandar para a cadeia. Todos morreram. Dependendo do ponto de vista, tem o Sarney, que sempre foi lambe-botas de general e foi presidente. Pensando bem, na falta de um general, pega o marimbondo!!
—
Sério: na falta de generais, a tal da comissão da verdade vai atrás de quem? Torturadores? Ah, tá, encontram 10, 20, 50, 100 torturadores. E acham que vão prender quantos?
Não é assim que funciona com as chamadas elites? Ah, vai querer me dizer que os torturadores da ditadura não estão nessa chamada elite?
Pra mim, esta tal de comissão da verdade vai servir de palco para candidatos em 2014.
Luzes e mais luzes!! Simplesmente Maria do Rosário, a ministra, vai adorar!!
—
Esse merecia um pau-de-arara?? |
O colunista Elio escreveu que … “em 1969, quando a tortura foi transformada em política de Estado pela ditadura”.
Pura verade. Os milicos estavam perdidos porque as ações dos grupos de esquerda aumentaram, a partir de 1968. Os milicos concluiram, erradamente, que os “comunistas não estavam para brincadeira”.Claro que não estavam brincando de guerrilha, mas longe de terem um mínimo de organização. Eram dezenas de “organizações”, dissidências das dissidências. Era tal a esculhambação que as guerrilheiras engravidavam, os guerrilheiros se apaixonavam pelas companheiras,os caras caiam porque iam fazer uma visita íntima a mulher ou visitar os filhos.
Aí os milicos decidiram terminar com a guerrilha – “guerra é guerra!!”
Tinham muita grana, do próprio Governo e do empresariado, além do apoio irrestrito das empresas de comunicação. Aí foi fácil.
—
Tenham a certeza disso: a Lei da Anistia é imexível!!
Volto amanhã.
Um pouco ambíguo: devemos ou não buscar responsabilizar os torturadores e mandantes? Quanto à questão das outras ditadoras, a que está de fato em pauta é a nossa – o resto seriam manobras diversionistas, para desviar a atenção do foco. Seria crime lutar contra um regime imposto pela força? Estariam os 'dois lados' (como a direita costuma definir a questão) realmente em guerra, ou um estaria sendo de fato esmagado pouco a pouco pelo outro, até a aniquilação quase total? Haveria identidade de culpa entre os que lutavam para liberar o país do jugo, com meios e estrutura obsoleta, e os que usaram organismos públicos para reprimí-los? Seria legítimo ou anistiável o uso de de qualquer método, inclusive tortura e assassinato com desaparecimento do corpo? Seria justificável, de alguma forma? Essas são as perguntas centrais de um debate sério sobre tal assunto. O Estado foi anistiado? E o regime?