GENOCIDAS,
DITADORES E
TORTURADORES – 3
A tal da Comissão da Verdade pretende apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui os mandos e desmandos dos milicos.
Já imaginou? São 42 anos de sacanagens, de todo tipo de mutretas, de bandidagens, de assassinatos!!
A lei que instituiu a Comissão da Verdade foi sancionada em novembro do ano passado, mas até agora dona Dilma não anunciou os nomes de quem vai compor o grupo responsável pela apuração dos crimes.
Serão 7 notáveis – fala-se que FHC estará nesse grupo – e não terão orçamento e muito menos funcionários. Vão comer na mão da Casa Civil.
Olha, investigar violações dos direitos humanos em 42 anos não vai ser mole. Dá a impressão de que fizeram mais uma comissão para não fazer nada.
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Aí leia isso:
O Ministério Público Federal entende que a Lei da Anistia não beneficia os chamados crimes continuados, como os de sequestro. Tanto que denunciou o coronel da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió, por crimes de sequestro qualificado contra cinco militantes que atuaram durante a guerrilha do Araguaia.
Entendeu?
SEQUESTROS!!
Aí encasquetei numa coisa: e aqueles embaixadores e consules que foram sequestrados pelos cumpanheirus que lutavam “pela liberdade no Brasil”?
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Amigos,
Leiam essa matéria da Folha de S. Paulo, de 30 de abril de 2008. É assinada por Wanderley Preite Sobrinho, um colaborador do jornal:
Envolvidos no sequestro de embaixador americano
se dividem sobre eficácia da ação
Um dos episódios mais tensos da história do Brasil foi o seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, no Rio de Janeiro. Depois de 39 anos, os seqüestradores se dividem sobre a eficácia da ação. Alguns dizem não se arrepender da ação. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), não só se arrepende como não gosta nem de falar do assunto.
Gabeira afirma que sua imagem ficou muito ligada ao seqüestro, do qual se arrepende de ter participado. “Aquela ação e todo o processo de luta armada minou a possibilidade de uma resistência pacífica”, diz.
Cid Benjamin, o estudante que dirigiu um dos veículos usados no seqüestro, concorda. Ele diz que tentar derrubar a ditadura pela luta armada foi um erro porque a população não estava mobilizada. “Sem apoio popular, a luta armada nos levou ao isolamento e facilitou nossa derrota. Mas nosso método era legítimo porque a ditadura prendia, torturava e matava.”
Ao contrário de Gabeira, Benjamin não se arrepende do episódio. “Não me arrependo do seqüestro. Nosso objetivo era libertar os presos e conseguimos. Se exigíssemos a liberdade de 150 pessoas, os militares teriam atendido nosso pedido.”
“É preciso considerar a conjuntura do período”, diz João Lopes Salgado, que estava no outro veículo que participou do seqüestro. “O governo estava em crise porque o presidente Costa e Silva sofreu um derrame, e o vice, que era civil, não pôde assumir.”
Ele diz que a ação, inédita, causou surpresa internacional. “Eu me sinto privilegiado por ter participado daquele seqüestro.”
Para Paulo de Tarso –um dos quatro seqüestradores que tomaram o carro em que estava o embaixador–, a militância estudantil ficou de mãos atadas depois do AI-5. “Foi a própria ditadura que jogou os jovens nos braços da luta armada”, diz. “Não havia outra alternativa para quem se engajou, mas eu sei que é difícil para as pessoas entenderem esse quadro hoje.”
O ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, diz que com a experiência de hoje não teria partido para a luta armada depois do AI-5. “Mas não me arrependo de ter pegado em armas ou de ter contribuído, seja na clandestinidade, seja no exílio, para o fim daquele regime odioso.”
Foi Franklin Martins que redigiu a carta pedindo a libertação dos 15 estudantes em troca de Elbrick.
Manoel Cyrillo Netto – outro a invadir o carro do embaixador – não fala em arrependimento. “Aquele foi um dos episódios mais importantes dos povos de todo o mundo”, diz. “É algo com o nível de importância de uma guerra do Vietnã porque foi uma das mais grandiosas ações contra o império americano.”
Netto diz que a ação não pode ser considerada um seqüestro. “O que fizemos foi capturar um embaixador de um país inimigo e trocá-lo por aliados nossos.”
Como foi o sequestro
Eram 14h30min do dia 4 de setembro de 1969 quando um fusca azul guiado por Cid Benjamin bloqueou a rua Marques, no bairro de Botafogo, no momento em que passava o Cadillac preto em que estava Elbrick. No banco de trás do fusca estava Franklin Martins.
“O embaixador estava saindo de casa em direção à embaixada”, lembra o hoje jornalista Benjamin. “Nós conhecíamos sua rotina: ele ia para a embaixada às 10h, voltava para casa ao meio-dia para almoçar e retornava ao trabalho depois das 13h.”
Ele conta que naquele dia, houve um imprevisto e Elbrick não foi trabalhar de manhã. “Nós planejávamos seqüestrá-lo às 10h, mas, como ele não apareceu, imaginamos que ele só fosse para a embaixada depois do almoço”, diz. “E estávamos certos.”
Enquanto o fusca que ele guiava bloqueava a passagem, um fusca vermelho com João Lopes e Vera de Araújo Magalhães a bordo parou atrás do Cadillac.
Foi quando outros quatro guerrilheiros que estavam na calçada (Paulo, Manoel, Cláudio Torres – que não fala sobre o assunto – e Virgílio Gomes da Silva) invadiram o carro do embaixador armados cada um com uma Tauros calibre 38. Toda a operação foi vigiada de perto por José Sebastião Rios de Moura.
Eles renderam o embaixador e seu motorista, tomaram o Cadillac e o estacionaram em uma rua pouco movimentada. O motorista foi deixado no veículo com um bilhete em que estavam descritas as exigências para o resgate.
Enquanto os guerrilheiros levavam o embaixador para uma Kombi verde dirigida por Sérgio Rubens Torres (que não retornou os contatos da reportagem), Elbrick tentou fugir, mas foi impedido por uma coronhada na cabeça. Eles seguiram direto para o cativeiro, um sobrado de cinco dormitórios na rua Barão de Petrópolis, zona norte do Rio, onde o esperavam Joaquim Câmara Ferreira e Fernando Gabeira.
O grupo completo era formado por 12 integrantes. A ação foi comandada pela Dissidência Comunista da Guanabara, que contava com oito guerrilheiros. “Estava tudo pronto, mas achávamos que era importante convidar a ALN (Ação Libertadora Nacional), que enviou quatro pessoas de São Paulo”, afirma Benjamim. Eles acreditavam que a ação conjunta estimularia a unificação da esquerda.
O manifesto deixado no carro foi assinado pela ALN e pelo MR-8. Foi assim que a Dissidência passou a se intitular a partir de então. A intenção do grupo era provocar os militares, que haviam acabado com um outro grupo guerrilheiro de mesmo nome meses antes.
“Nosso objetivo era salvar os presos políticos, mas a ação representava muito mais”, diz Benjamin. “Ela tinha um impacto político internacional e era um golpe na propaganda dos militares que falava sobre um Brasil potência.”
Entre os presos estavam Vladimir Palmeira e José Dirceu, que tinham sido capturados em outubro do ano anterior durante um congresso clandestino da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna, interior de São Paulo.
“A condição dos militares era que, depois de liberados, a gente fosse banido para o México”, diz o ex-ministro José Dirceu. “Fiquei uma semana por lá e fui para Cuba passar por treinamento militar.”
Elbrick ficou no cativeiro de quinta-feira até domingo, quando foi deixado às 18h30 no Largo da Segunda-Feira, zona norte da cidade. Ele voltou para casa de táxi. Depois do seqüestro, retomou os trabalhos na embaixada, mas no ano seguinte voltou para os Estados Unidos, onde morreu em 1983 aos 75 anos.
Dos 12 envolvidos, oito foram presos. Os únicos que ficaram livres foram Franklin Martins – que se exilou em Cuba e voltou ao Brasil em 1973 -, José Sebastião, João Lopes e Sérgio.
Do grupo, quatro morreram. José Sebastião foi baleado em 1983 perto de casa, em Salvador, e não resistiu. Vera morreu em dezembro do ano passado vítima de câncer.
Dois dos envolvidos foram assassinados logo depois do seqüestro do embaixador. Joaquim foi preso no dia 24 de outubro de 1970 e morreu no mesmo dia durante sessão de tortura. Já Virgílio, o comandante da operação, chegou à cadeia no dia 29 de setembro de 1969 e, também torturado, acabou morto no dia seguinte.
“Não tenho dúvidas que se eu pudesse recuperar meus amigos, eu não entraria na luta armada, mas a gente não sabe como é o futuro”, afirma Paulo de Tarso.
“Tive o privilégio de sair vivo de tudo isso. Muitos não tiveram a mesma sorte e ficaram pelo caminho”, diz Franklin Martins. “Mas posso contar para meus filhos e meus netos tudo que fiz. Não me envergonho de nada. Já os que seqüestraram, humilharam e torturaram milhares de opositores do regime e assassinaram centenas deles não podem fazer o mesmo.”
Não sei se volto ao assunto amanhã.