MAS O PIOR É AQUELE COM ESPÍRITO DE POBRE!!
Nas TVs, ninguém sente frio |
Chegamos naquela época infernal. Período em que os seres do mal tentam dominar as nossas vidas. Quase conseguem.
Para quem não está no RS: saiba que passamos o primeiro dia de maio com temperaturas baixíssimas. A chatice de sempre. Tá certo, ontem à tarde deu uma esquentada, mas de manhã estava de rachar. Para entenderem melhor: sabe qual o assunto dominante nas rádios hoje de manhã? Ora, meu Deus!!, o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, por causa do nevoeiro.
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Em função dessa engronha já começaram, na segunda, principalmente nas TVs, as matérias sobre o “frio e seus reflexos”. Há décadas são as mesmas matérias – só mudam os repórteres. Daqui a umas semanas, o departamento comercial das TVs começa a faturar nas cidades serranas. Nas redações, há disputas para definir quem serão os escalados para ir “cobrir o frio e a possibilidade de neve”. Décadas se passam e as TVs continuam a fazer o mesmo “trabalho”: sempre para a classe média e para os pobres que se acham classe média. Sabe? Dicas de um creme para a pele não ressecar, melhor alimentação, cuidados com o excesso de álcool, entre inúmeras outras bobagens.
Aí sempre tem um jornalista “especializado em economia” que em razão do frio setencia: “as vendas no comércio varejista irão aumentar 28,45 por cento no próximo trimestre”.
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A propósito, outro dia assisti a uma dessas matérias, fruto de uma cabeça privilegiada que pauta os repórteres.
Lá pelas tantas, aparece um sujeito, com menos de 30 anos, aquele típico que ganha “mil real” por mês, enfiado numa loja de departamentos.
– É, tô aqui com a patroa pra gente renová o nosso roupeiro.
(Para quem não é do RS, roupeiro é o local onde se guardam as roupas pessoais; armário é outra coisa e guarda-roupa não existe por aqui)
O cara tinha um ar de felicidade indescritível!!
Sabe como é, né? Ele tem um cartão de uma dessas lojas de departamentos e se atraca a comprar roupas pra ele, pra patroa, pra Suelen e pro Maicom. Braçadas de roupas. Até pijamas, porque essa gente adora comprar pijamas para as crianças. Aí paga em suaves pretações. Sim, 24 vezes.
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Não sei como funciona, mas imagino que quando começa o verão eles levam as roupas de inverno para a igreja, “pra dar prus pobre”. É batata!! No primeiro friozinho, eles emtopem as grandes lojas, como C&A e Renner. Duvida? Dá uma pasadinha quando a temperatura estiver próxima a 10 graus. Ah, e a Rainha das Noivas deve ficar também entupida, porque eles adoram comprar edredom. Muitos. Para toda a família!!
Todo ano é a mesma romaria.
Sério, é muito divertido passear nestas grandes lojas. As piadinhas estão ali, ao vivo!!
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Quéisso? Museu?? |
Ao título.
Esse tipo aí de cima é o pobre que tem o legítimo espírito de pobre. É o pobre que vai ser sempre pobre. É o pobre que acorda, num dia frio, e diz assim:
– Amooor, nesse ano tu não escapa. Vai levá nóis pra vê neve em Gramado!!
E, claro, vão de excursão, compram mais blusas por lá – as mesmas que tem no comércio da Voluntários da Pátria, no centro de Porto Alegre, por 15 pilas – e trazem vinho de garrafão que, invariavelmente, um deles quebra um dentro do ônibus, na volta.
Esse tipo não tem jeito, porque é influenciado, ano a ano pela TV.
É o pobre com espírito de pobre que acha que é classe média.
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Não tem muita diferença do sujeito que tem dinheiro com espírito de pobre. Melhor, não tem diferença.
Na real, fazem as mesmas coisas.
Adoram passar o dia num shopping – “comemos alguma coisa rapidinha” – e renovar o guarda-roupas. “De tudo, das bolsas as toquinhas!!”. Aí a amiga diz: “E não te esquece que vamos comprar aquele creminho que a repórter falou ontem na TV!!”.
Também adoram ir para uma cidade serrana, onde geralmente tem uma casa herdada da avó.
Ah, sim, e não compram vinhos gaúchos – “lá em casa só se toma vinho chileno ou argentino”.
Adoram também cartões de crédito.
E fondue? Pagam uma grana preta pra “saborear” um em Gramado!!
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Qualquer dia volto ao assunto
Hoje estás com as pilhas bem carregadas. Hahaha… Estás coberto de razão, pois pelados com mania de gente rica é algo cômico. E tem algo que esqueceste. É o velho, conhecido e bom JABÁ que alguns recebem para informar que vai nevar em Gramado no final de semana. Neve lá é coisa rara, mas se observares bem vais perceber que há um que nas sextas-feiras estufa o peito e anuncia solenemente que a neve está chegando a Gramado. O maldito JABÁ faz com que incontáveis babacas corram para lá e fiquem em longas e intermináveis filas, muitas vezes chuva para conseguirem entrar e comer galeto, a galinha, a mesma que comem em suas refeições durante a semana. Lembro que quando lotado em Cambará do Sul, certa feita retornando de carona com um automóvel que conduzia malotes bancários este parou em São Chico para abastecer e desci do carro quando parou um carrão cheio de paulistas me perguntado com faziam para chegar a Cambará para ver a neve. Minha vontade foi a de manda-los a puta que os havia parido, pois eu fazia o caminho inverso fugindo assim do frio intenso que lá imperava.