Revolução e soberania
Orestes de Andrade Júnior*
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No início do ano, em encontro entre vitivinicultores na Argentina, o diretor-executivo da Fecovinho, Hélio Marchioro, fez uma pergunta interessante. “Se aqui na Argentina vocês tivessem 80% do mercado de vinhos dominado por rótulos importados, o que vocês fariam?” O conhecido viticultor argentino José Zuccardi respondeu: “Una revolución!” O setor vitivinícola brasileiro optou – não por uma revolução – mas pelo caminho democrático do comércio internacional. A salvaguarda é uma medida temporária e pode ser facilmente compreendida, assim como quando o Brasil sofre restrição na venda de suco de laranja para os EUA ou é impedido de vender carne suína para a África do Sul e a Rússia, entre outros exemplos.
O objetivo da indústria vitivinícola brasileira é resgatar a sua capacidade competitiva para permanecer neste mercado e, se possível, elevar a sua participação em alguns pontos percentuais. Hoje, não é isso que ocorre. Praticamente todo o crescimento fica nas mãos dos rótulos estrangeiros, que detém 80% da venda de vinhos finos no país. Ou, se pegarmos os dados do primeiro bimestre de 2012, esta fatia já chega a 90%!
O que fazer? Uma revolução não seria má ideia, como sugeriu o produtor argentino. Mas assim como Código Penal prevê a legítima defesa e o pai do liberalismo moderno, John Locke, pregava que “cada um está obrigado a preservar-se”, as entidades representativas do setor vitivinícola brasileiro tem o dever – pra não dizer a obrigação – de defender a produção nacional. Caso contrário, pecariam por omissão.
Se há quem esteja preocupado com o “seu Bordeaux de cada dia”, como disse uma sábia jornalista do mundo do vinho, nós estamos preocupados com o Ademir, o Adriano, o Márcio, o Juliano, o Giovani, o Flávio, o José, o João, o Juarez, o Olir, o Zé, o Zeca, o Aírton, o Valter, o Clóvis, o Benildo, o Oscar, o Henrique, a Patrícia, a Juliana, a Carolina, a Flávia, entre tantos outros milhares de produtores de uva e vinho do Brasil. Quem conhece essas pessoas pelo nome, por ter compartilhado seus sonhos e acompanhar a sua luta, não tem dúvida sobre o que fazer e de que lado lutar.
Para tanto, ninguém quer restringir a variedade de produtos estrangeiros aos consumidores. O que se busca é participar do crescimento registrado nos últimos anos. Por isso a salvaguarda temporária é necessária para regular o mercado nacional de vinhos. Para garantir a sobrevivência à cultura brasileira do vinho. Antes de qualquer coisa, é uma questão de soberania. E de amor ao Brasil.
* Orestes de Andrade Jr. é assessor de imprensa do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho)