No sábado, o jornalista Janer Cristaldo respondeu ao artigo de Marko Petek, publicado no “Fim de Semana do Prévidi – 12/13-5-2012”, que contestou a afirmação de que o “aquecimento global é uma bobagem”.
O texto está no http://cristaldo.blogspot.com.br/
CIENTISTA DO CERN NÃO
COSTUMA LER JORNAIS
Meu caro Marko Petek:
É justamente para não falar bobagens que me abstenho de comentar o tal de aquecimento global. A área é multidisciplinar, exige domínio de ciências como biologia, física, química, astronomia, arqueologia, paleontologia e por aí vai. Sua abrangência é tal que permite duas abordagens. Primeira, dizer bobagens por falta de conhecimento. Segunda, elaborar teorias desvairadas, por falta de conhecimento. Como não me agrada incidir em nenhum deste itens, que no fundo são um só, sempre me mantive silente. Silêncio que ainda preservo, pois não pretendo discutir o que não conheço.
É muito fácil mostrar fotos de glaciares diminuindo de volume. O que se esquece é que glaciares também se expandem. Tampouco é difícil mostrar fotos de satélites em que vemos uma montanha coberta de neve e, na foto seguinte, careca de neve. O que se esquece é que muitas montanhas se cobrem de neve no inverno e dela se despem no verão. Não, nunca quis discutir tais fatos, já que tais fotos pouco ou nada provam. Há períodos de aquecimento no planeta? Claro que sim. Houve muitos. Como também glaciações. Temperaturas aumentam? Sim, aumentam. Mas também baixam. Glaciares diminuem? De fato, diminuem. Mas também aumentam.
Mas sei ler e – sabendo ler – não tenho dificuldade alguma em entender esta frase singela: “cometi um erro”.
Também consigo entender o que segue:
– O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo. Pensávamos que sabíamos nos últimos vinte anos. Isto levou a alguns livros alarmistas – o meu inclusive – porque parecia óbvio, mas isto não aconteceu. O clima está fazendo seus truques usuais. Não há nada realmente acontecendo ainda. Já era para estarmos a meio caminho de um mundo tórrido. O mundo não aqueceu muito desde a virada do milênio. Doze anos é um tempo razoável… a temperatura permaneceu quase constante, enquanto devia ter-se elevado. O dióxido de carbono está aumentando, não há dúvida quanto a isso.
Não li isto em Veja ou Superinteressante, nem vi no programa do Jô. Minhas fontes são as declarações de James Lovelock, o guru da teoria do aquecimento global. Que chegou à conclusão que a raça humana está condenada. Que mais de seis bilhões de pessoas morrerão neste século. Que arrebanhou milhares de malucos no mundo todo, que saíram a fazer campanhas para impedir a construção de barragens e hidrelétricas. Que dizia ao escritor americano Jeff Goodel, enquanto caminhava em um parque em Oslo:
– Até 2040, o Saara vai invadir a Europa, e Berlim será tão quente quanto Bagdá. Atlanta acabará se transformando em uma selva de trepadeiras kudzu. Phoenix se tornará um lugar inabitável, assim como partes de Beijing (deserto), Miami (elevação do nível do mar) e Londres (enchentes). A falta de alimentos fará com que milhões de pessoas se dirijam para o norte, elevando as tensões políticas. “Os chineses não terão para onde ir além da Sibéria”, sentencia Lovelock. “O que os russos vão achar disso? Sinto que uma guerra entre a Rússia e a China seja inevitável.” Com as dificuldades de sobrevivência e as migrações em massa, virão as epidemias. Até 2100, a população da Terra encolherá dos atuais 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes – Canadá, Islândia, Escandinávia, Bacia Ártica.
Continua Jeff Goodel:
– Até o final do século, segundo o cientista, o aquecimento global fará com que zonas de temperatura como a América do Norte e a Europa se aqueçam quase 8 graus Celsius – quase o dobro das previsões mais prováveis do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática, a organização sancionada pela ONU que inclui os principais cientistas do mundo. “Nosso futuro”, Lovelock escreveu, “é como o dos passageiros em um barquinho de passeio navegando tranqüilamente sobre as cataratas do Niagara, sem saber que os motores em breve sofrerão pane”. E trocar as lâmpadas de casa por aquelas que economizam energia não vai nos salvar. Para Lovelock, diminuir a poluição dos gases responsáveis pelo efeito estufa não vai fazer muita diferença a esta altura, e boa parte do que é considerado desenvolvimento sustentável não passa de um truque para tirar proveito do desastre. “Verde”, ele me diz, só meio de piada, “é a cor do mofo e da corrupção.”
Lovelock, inventor do Electron Capture Detector, aparelho que ajudou a detectar o buraco crescente na camada de ozônio e outros nano-poluentes, considerado “uma das mentes científicas mais inovadoras e rebeldes da atualidade”, é o criador da chamada hipótese de Gaia, que vê a Terra como um organismo vivo. Segundo o “cientista”, a emissão de gás carbônico, de clorofluorcarbonetos (CFCs), de desmatamentos dos biomas importantes como a floresta amazônica, a concentração de renda, o consumismo e a má distribuição de terra podem causar sérios danos ao grande organismo vivo e aos outros seres vivos, inclusive ao ser humano. Por conta disso, há aumento do efeito-estufa, a intensificação de fenômenos climáticos, o derretimento das calotas polares e da neve eterna das grandes montanhas, a chuva ácidas, a miséria e a exclusão humana.
Ou seja, de um lado a emissão de gás carbônico (característica de países industrializados), desmatamento de biomas (característica também destes países), concentração de renda, consumismo e má distribuição da terra. De outro, a miséria e a exclusão humana. Traduzindo: militando no lado do Mal estão os países ricos. Os países pobres sofrem no lado do Bem. Se não me falha a memória, já ouvi essa tese. Data do século XIX, se bem me lembro.
Pois é, Marko, não é a Veja nem o programa do Jô que estão negando a hipótese do aquecimento global. Muito menos eu. E sim o “cientista” que elaborou a teoria. Arthur Clarke e Clifford Simack foram prudentes e jogaram suas fantasias no campo da ficção científica. Lovelock pretendeu situar seus desvarios no campo da ciência. Ora, ficção científica é um gênero literário que serve para espairecer. Ciência é algo mais sério e exige confirmação nos fatos.
Outro erro de Lovelock foi situar o apocalipse perto demais de seus contemporâneos. Apocalipse só funciona no final dos tempos. Este foi também o erro de um outro profeta, Marx. Colocou o paraíso duas ou três gerações logo adiante. Ora, você pode anunciar o paraíso até a geração de seus netos. Mas se o anunciado paraíso não ocorre, você não espera mais. O profeta era fajuto.
Você é pesquisador do prestigioso CERN e trabalha na Suíça, não é verdade? Ou os jornais não estão atravessando os Alpes, ou você, encerrado nos subterrâneos do CERN, imerso na contemplação das colisões entre elétrons e pósitrons, não leu os jornais da semana passada. Você me recomenda estudar mais um pouquinho. Eu o aconselho a ler jornais. Você não está sabendo das últimas.
Por uma feliz coincidência, centrei meu artigo sobre Lovelock em José Lutzenberger, o desvairado gaúcho que assumiu a hipótese de Gaia. Não sabia que, nestes dias, comemoram-se os dez anos de sua morte. Leio na Zero Hora que centenas de jovens foram levados a visitar um parque em sua memória, em Pântano Grande, o Rincão de Gaia. Sintomático que tenham levado jovens para homenageá-lo. Os jovens são em geral idiotas e engolem qualquer potoca que lhes enfiem pela garganta.