Segunda, 25 de junho de 2012 – parte 2

Alexandre Aguiar, da MetSul Meteorologia

Li atento as mensagens publicadas no teu site sobre a previsão do tempo no Brasil. Veja o que ocorre neste momento nos Estados Unidos. Existe uma tempestade tropical, quase um furacão, agora no Golfo do México e os meteorologistas americanos simplesmente não sabem para onde a tormenta vai rumar, apesar de contarem com mais de 20 modelos e alguns de última geração especialmente projetados para acompanhamento deste tipo de tempestade. Olha como a previsão já mudou radicalmente nas últimas horas. Primeiro, a tempestade rumaria para Oeste. Agora vai se deslocar para Norte. Algo completamente diferente de poucas horas atrás.

http://www.nhc.noaa.gov/archive/2012/graphics/al04/loop_3W.shtml

No boletim da manhã deste domingo, o meteorologista que assina o alerta do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) assinala: “É um prognóstico muito difícil e incerto nesta manhã”. Já no boletim da tarde, quando a previsão tinha mudado radicalmente, o texto diz: “Houve uma significativa mudança na trajetória prevista”. E, mais adiante no texto, afirma: “Estou um pouco mais confiante, mas ainda não totalmente, que a tempestade não vai rumar para Oeste”. O boletim encerra informando que o prognóstico é de baixa confiabilidade.

Estamos falando do melhor centro de previsão de ciclones do planeta. Disparado o melhor e com mais recursos, alguns que a gente sequer sonha ter como voos de reconhecimento com aviões que ingressam nas tempestades, lançando sondas para coleta de dados.

Nossos meteorologistas (Eugenio, Nachtigall e Estael) já avisaram que nos próximos meses haverá períodos de previsão muito complexa pelo aumento da freqüência de bloqueios atmosféricos (instabilidade fica parada e quase não se desloca), devido ao El Niño, o que gera enorme divergência entre modelos e mudanças súbitas de tendências regionais. Com isso, as previsões podem mudar muito de um dia para o outro para o intervalo de cinco a sete dias.

Foi o que ocorreu há cerca de 10 dias aqui no Estado. Mas, neste tipo de situação, a nossa recomendação interna é ser honesto com o público, como os americanos fazem, e advertir da complexidade do prognóstico sem afirmações peremptórias. Muito longe de passar ao público uma idéia de desconhecimento e hesitação, acreditamos que a transparência com o público em situação de prognóstico difícil e de baixa confiabilidade de previsão reforça credibilidade.

Foi o que fizemos, por exemplo, em boletim publicado no site do Sistema Metroclima de Porto Alegre no dia 12 e que reproduzo: “Os modelos divergem muito quanto à mudança do tempo em Porto Alegre, trazendo grandes alterações de uma saída para outra. As mesmas simulações que hoje de manhã indicavam chance de chuva na cidade já na segunda metade da quinta, agora apontam a instabilidade apenas chegando na sexta. Estamos, contudo, mantendo a possibilidade de chover já na quinta-feira. O prognóstico, assim, é intrincado para os próximos dias, o que já poderia se esperar diante de uma condição de bloqueio atmosférico que reduz o skill (margem de acerto) dos modelos:”.

Em 95% dos dias do ano o prognóstico do tempo é tranqüilo, mas os ínfimos 5% são os que proporcionam as jornadas de trabalho mais árduas e tensas, sempre seguindo a cartilha do Professor Eugenio Hackbart de não se adotar opiniões definitivas e sim que compartilhem com o receptor da informação a dificuldade da previsão.

PS1: O Julio Mariani que escreveu ao Fernando Albrecht está cobertíssimo de razão.  Olhar só modelo cegamente é um grave erro, tanto que eles já foram chamados de câncer da Meteorologia, quando usados isoladamente. É preciso sim olhar para o céu e o “chovedouro”. Podem existir grandes observadores do tempo que não são meteorologistas, mas não haverá grande meteorologista que não seja grande observador.

PS2: A fama do Instituto Antares é desproporcional à realidade. É a lenda que cresceu de tamanho, ano após ano, alimentada por uma época em que a frase “quer mentir, fala do tempo” era verdadeira na maioria das vezes. E aqui. Experimente uma busca no Google por Instituto Antares. Os uruguaios nada falam a respeito. Foi algo que se alimentou aqui no Estado da mesma forma que quando piá escutava as rádios de Buenos Aires e Montevidéu à noite no AM para saber do tempo por lá e o que poderia vir para cá.

(clica em cima que amplia)

Um comentário em “Segunda, 25 de junho de 2012 – parte 2”

  1. A explicação técnica do Alexandre Aguiar é didática e esclarecedora. A Meteorologia é assim no mundo inteiro: trabalha com prognósticos, logo não se trata de afirmação definitiva, mas de possibilidades de acerto. O que uma carta meteorológica mostra num determinado momento torna-se obsoleta horas depois. Sobre o Instituto Antares quem deu prestígio a ele aqui no RS foi o Flávio Alcaraz, já que ele conheceu bem o "instituto" que funcionava numa garagem nos fundos de casa do "seu" Antares. Era tão científico como o 171º Distrito de Meteorologia, da Ivanhotempo, dirigida pelo engenheiro meteorológico Alcebíades Louzada Balaustre, irmão mais moço do saudoso e inesquecível Pedro Louzada Balaustre. Rogério Mendelski

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