IDIOTICES MUSICAIS DO SÉCULO 21
Há alguns anos que escrevo que neste século os chamados compositores brasileiros não fizeram nada que prestasse. Não surgiu um cantor, um músico, nada que merecesse destaque.
Li ontem a coluna ” Na Mira do Régis”, escrita pelo produtor e crítico musical Régis Tadeu, colunista do Yahoo. Estava no http://ivanhoeegglerferreira.blogspot.com.br/, recomendado por um amigo.
Vale a pena!!
“Prêmio Multishow” celebra a cretinice nacional
Você vai ler em um monte de portais de notícias, revistas, jornais, blogs e o escambau a quatro que a cerimônia de ontem do Prêmio Multishow (veja fotos) foi “maravilhosa”, “engraçada” e “delirante”, que a dupla de apresentadores foi “carismática”, “divertida” e “com jogo de cintura”, que a premiação foi “justa”, que os shows foram “muito bons” e por aí vai…
Mentira. Cascata. Lorota.
Não sei qual é o comprometimento com a verdade de quem escreveu os adjetivos acima, nem quais são os interesses de se agradar a emissoras, patrocinadoras e anunciantes. Mas o que aconteceu ontem foi, na verdade, um dos momentos mais constrangedores da história da TV brasileira, um evento que ficará marcado como exemplo do que não se deve fazer em uma cerimônia deste tipo.
Se o pessoal da FIFA utilizar o que aconteceu ontem como referência brasileira de organização para as cerimônias de abertura e encerramento de grandes eventos, pode apostar que a Copa do Mundo de 2014 vai ser imediatamente transferida para a Namíbia…
Bem, nada poderia mesmo dar certo quando se escala um “intelectual” e “grande conhecedor de música” como Sergio Mallandro para conduzir entrevistas pré-evento. Agindo como se fosse um doente mental adrenalizado, ele engatou papos constrangedores com várias periguetes descerebradas e até mesmo com sua ex-mulher, numa demonstração de desperdício de tempo e dinheiro poucas vezes vistos na TV. Louve-se o esforço de Beto Lee em emprestar um pouco de dignidade e conhecimento para elaborar perguntas interessantes e de cunho musical a alguns convidados. No mais, “vergonha alheia” total.
Na plateia, um desfile de figurinhas mais manjadas que pastel de queijo na feira. Integrantes do Jota Quest e outras bandas do mesmo naipe se misturavam a “globetes” de segundo escalão e “mudéerrrrrnuuussssssssss” do “mundinho indie hipster”, formando uma massa de gente anestesiada e blasé, todo mundo “uns queridos” um dos outros.
Nem vou comentar a respeito das premiações para não passar nervoso. Não dá para levar a sério nada que tenha uma categoria do tipo “Artista Mais Bombado no Twitter, Facebook e o cacete a quatro”.
A proposta de mostrar um “artista de sucesso” tocando e cantando ao lado de um “artista novo” foi um desastre de proporções bíblicas. O que reinou foi um tipo de música que passa muito, mas MUITO longe do que anda acontecendo no Brasil atualmente. O que rolou foi som de quem cabulou aula na faculdade para ficar na cantina comendo coxinha fria e tocando um violãozinho sem vergonha ao lado de copos de cerveja quente. Tudo miudinho, com potência sônica abaixo de zero, de fazer chorar lágrimas de sangue e pus.
Foram quase três horas de terror absoluto. O Capital Inicial e o grupo Selvagens à Procura de Lei — que lançou um disco bacana, inclusive – assassinaram as duas canções que tocaram — “Fátima” e “Mucambo Cafundó”. Para você ter uma ideia do nível ‘bagaceiro’ da apresentação, o baterista do Selvagens tocou o tempo todo com um par de baquetas enfiado no bolso da frente da calça! Mais mulambento, impossível. E os vocais, meu Deus! As desafinações mostraram o velho defeito desta “nova geração”, que venho apontando há tempos: ninguém sabe cantar! Haviam quatro guitarristas no palco, pedaleiras com 458 efeitos — para tocar “Fátima”? -, dois baixistas e dois bateristas, e o que se ouviu foi um sonzinho mais fraco que sopa de albergue noturno. Nada poderia ser pior…
Nada? Engano meu, seu e nosso. Uma das maiores farsas “hypadas” da atualidade, Gaby Amarantos surgiu ao lado de Lia Sophia e Felipe Cordeiro, se perdeu no “clique eletrônico”, teve que parar e recomeçar “Ex-My Love”, cantada em ritmo desacelerado e com a sensação de que havia um vaso de xaxim no lugar das amígdalas. Com a presença de palco de alguém cujo sangue foi substituído por gesso, ela ainda interagiu com a guitarra de Cordeiro e seu timbre “boteco especializado em polenta frita”, cuja voz parece ter o senso de afinação de um texugo morto. Foi uma das coisas mais constrangedoras e desafinadas da história da música universal.
Ana Carolina cantou música de lésbica na fossa só com piano e voz. A impressão é que logo iria surgir no palco um garçom com um espeto cheio de corações de frango. Vendo de longe, fiquei em dúvida se não estava assistindo a uma apresentação do Meat Loaf de volta com cabelos compridos. Sua convidada, uma tal de Jesuton, deu uns gritos mais ou menos afinados, mas quando cantaram juntas, provavelmente mataram todos os pássaros que viviam na região do teatro.
Na apresentação do evento, a coisa não apenas foi pior: foi um desastre completo. A dupla formada por Ivete Sangalo e um careca muito mala e sem um pingo de graça, chamado Paulo Gustavo, protagonizaram cenas lamentáveis. Não parando de falar um minuto sequer e interrompendo a toda hora para colocar frases tão engraçadas quanto uma matança de bebês-foca, ele realmente levou Ivete a um grau de irritação que ela mal conseguia esconder atrás de sorrisos amarelos e frases sem efeitos. Como é atriz, tentou o disfarçar o quanto pode que estava realmente puta da vida com o seu “colega”, que é uma mistura de Lex Luthor com a Regina Casé em seus piores dias, um dos seres mais desagradáveis que tive o desprazer de assistir na TV. Sério.
Alguns premiados também passaram vergonha. Um deles, Cícero — responsável pelo belo discoCanções de Apartamento – estava vestido como se fosse um roadie do Ultraje a Rigor que foi abandonado pelo grupo em algum puteiro de beira de estrada e agradeceu seus prêmios do modo mais “mongo” possível. Já Gal Costa enviou um vídeo de agradecimento no qual estava tão descabelada que, aparentemente, havia acabado de descer de um avião cujo vôo foi feito com as janelas abertas.
E os vexames musicais continuaram…
Há algo de errado quando os apresentadores pedem para a plateia — mais desanimada que fila de espera para fazer exame de urina em hospital público – aplaudir os artistas que vão se apresentar, como aconteceu com Paula Fernandes e Michel Teló, que entraram no palco ‘armados’ de um violão e um acordeão. Depois de tocarem a pavorosa “Pássaro de Fogo”, engataram uns temas regionais, tipo “Moreninha Linda”, que funcionaram muito bem. Pena que logo chamaram uma dupla, Patrícia & Adriana, que veio com uma “novíssima” versão em português de… “My Way”!!!! É isto mesmo o que você leu: “My Way”, aquela eternizada pelo Frank Sinatra! Foi um troço tão pavoroso que meus olhos começaram a esguichar uma mistura de gasolina com Fanta Uva…
Nando Reis e Arnaldo Antunes tocaram duas musiquinha com o grupo O Terno de maneira tão ruim e desafinada que tal apresentação seria constrangedora até mesmo em um circo mambembe de periferia. Maria Gadú e um tal de Dani Black pegaram vários acordes e harmonias de “Sweet Jane”, do Lou Reed, e botaram uma letra do tipo “vamos lavar nossos ursinhos de pelúcia juntos”. Mais bunda-mole, impossível.
A inacreditável — e inaceitável – pane que deu no som da apresentação do Agridoce, o tal projeto paralelo da Pitty com o Martin, foi o terrível retrato da premiação. Foi um troço tão constrangedor que Ivete depois de improvisar diálogos e piadinhas canhestras com o tal “mala careca”, resolveu ela mesmo chamar os comerciais, dizendo que era melhor entrar propaganda do que continuar com aquilo. Fuleiragem total!!!
A própria Ivete mandou mal na hora de se apresentar em termos musicais. Primeiro, ao fingir surpresa ao ser chamada para cantar. Depois, por vir acompanhada de um grupo – Filhos de Jorge — que parecia uma equipe de vendedores de Yakult reunida no réveillon em alguma praia tosca.
Aí você pode perguntar: “Mas não teve nada de bom”. Teve. Por incrível que pareça, Thiaguinho e Walmir Borges mandaram dois belos suingues abrasileirados, bem bacanas e razoavelmente afinados. E Erasmo Carlos, que é legal até quando é ruim. Ao lado do grupo Filhos da Judith, ele mudou o arranjo de “Que Vá Tudo Vá Pro Inferno”, diminuindo o andamento e deixando a casa mais pesada, quase um pastiche de Soundgarden, além de uma outra, meio Strokes, meio Oasis. Mesmo aparentando estar mais desanimado que suruba em reunião de condomínio, ele e os moleques até que não se saíram mal…
Com o final da apresentação, desliguei a TV e fiquei pensando no quanto estou cansado e revoltado com este “bundamolismo” existente na TV e na “música popular brasileira oficial e chapa-branca”. Ao fundo, os cachorros dos meus vizinhos uivavam de dor. É, fez sentido…
Haha, muito bom. Não assisti mas concordo com tudo. Principalmente sobre as vozes desafinadas. Isso virou regra no Brasil. Todo mundo toca bem prá caralho mas ninguém mais sabe cantar.