BREGA É A MÃE!!
AH, VAI CHUPAR UM CARPIM SUJO!!
PARTE 2
Leram o Bom Dia!! de ontem, não?
Sobre o meu viés “brega”. Aliás, como está no título, se me acha brega que vá chupar um carpim sujo, daqueles de soldado.
Quando era criança morava no Rio e gostava muito daqueles trios de bossa-nova, porque o meu sonho era ser baterista. Sabia as letras na ponta da língua. Mas gostava também do Altemar Dutra (Sonhei que eu era um dia um trovador) e, principalmente, do Vicente Celestino, com aquele vozeirão. Tinha pena dele, porque sempre cantava uma música muito triste – Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer/Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou.
Dá um tempo e confere:
Triste, né?
Lembro do Vicente Celestino, já velhinho, sendo homenageado em programas da TV Tupi.
O Ébrio no cinema foi um baita sucesso.
Mas não assisti, nem na TV.
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Pedi ontem que bons amigos, que entendem de música e se dão bem com o teclado, se manifestassem sobre o “breguismo”.
O primeiro que saltou foi o jornalista Rogério Mendelski:
Gostei do comentário sobre a música “brega”. Vou te dizendo logo: para mim não há música brega, sertaneja, pop, etc. O que há, conceitualmente, é apenas uma divisão para o som nosso de cada dia – música boa ou música ruim.
Música boa é aquela que, como disse um crítico musical do jornal San Francisco Chronicle, ao ser ouvida “provoca um leve arrepio em nossa pele”.
Ivete Sangalo: também não gosto de suas músicas, mas é impossível não se sentir bem ouvindo “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”. Gosto dos “sertanejos” Mato Grosso e Mathias quando interpretam essa maravilha de canção da Roberta Miranda “De Igual Pra Igual”. Não menos belas são as composições do Moacir Franco, interpretadas por ele mesmo (“Carta na Mesa”, por exemplo) ou pela dupla Milionário e Zé Rico (“Ainda Ontem Chorei Por Você”) .
E as guarânias paraguaias nas vozes de Betânia (“Meu Primeiro Amor” – versão de “Lejania”) e Roberto Carlos (“Índia”)? Não sei se conheces o trabalho de Francisco Petrônio, já falecido, mas ele tem uma versão em português para “Somewhere in Time” intitulada “Em Algum Lugar no Passado” – isso mesmo: do filme aquele – que é de provocar arrepios nos românticos.
Gosto sim do Fernando Mendes, do Nelson Ned, do Evaldo Braga, autor de “Sorria”, anos 70 que agora foi utilizada pela Renault para vender o Duster, só que não voz do Fábio Almann. Provoque mais sobre música dos bons tempos, amigão.
O Nelson Ned vendeu disco em espanhol como pão quente em toda a América Latina e
ainda está nas lojas com seus CDs. Dois grandes sucessos dele; “Se Eu Pudesse
Conversar com Deus” e “Se as Flores Pudessem Falar”. Como vês o carinha é um
homem de diálogos impossíveis, mas musicáveis…
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A médica Laís Legg mandou ver:
Tens toda a razão em teu desabafo. Quando a música nos toca e desce redondinha, ela é boa e ponto final. Afinal, pode dar rosa em pé de chuchu e o próprio numa roseira, não é mesmo? Concordo contigo em relação à Ivete Sangalo. Pena que o seu repertório não seja bom, mas sua voz é incontestável. Não há quem não se derreta ao ouví-la cantando “Se eu não te amasse tanto assim”, do Herbert Vianna. Aliás, o rei RC disse que gostaria de ter feito esta canção e cantou-a junto com ela em seu show.
Do mesmo modo, falo das músicas sertanejas: a maioria delas tem um cara se esgoelando, como se o tivessem colocado numa chapa quente e descalço. Mas eu gosto de ouvir “É o amor”, sugiro que ouças com as meninas cantoras de Petrópolis. Maria Bethânia gravou a canção e quase foi linchada.
No caso de “Sonho”, do Peninha, bastou Caetano gravar para a canção ser elevada de categoria, de brega para chique. Também aconteceu o mesmo com Wando, com sua “Fogo e paixão” (“…você é luz, é raio, estrela e luar…”) e Dalto, com seu “Muito estranho”. Bastou Nando Reis declarar que adora as duas músicas e gravá-las para os maria-vai-com-as-outras mudarem de opinião.
A música era considerada um dom divino, somente os deuses do olimpo sabiam executá-la. Depois que Orfeu passou a tocar sua lira, até as pedras choravam. Ao cantar sua tristeza por perder sua amada na noite de núpcias, conseguiu convencer os deuses do inferno a devolver Eurídice para a vida (mas se ralou por desobedecê-los, mas aí já é outra história). Então, na minha modesta opinião, as músicas são feitas e executadas por criaturas que possuem um dom, que é o de fazer os outros felizes. E há gosto para tudo.
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E mais alguns toques da Laís:
Ouve as Meninas Cantoras de Petrópolis. Deixa tocando ao fundo. Brega é a sra. genitora.
“É o amor”:
A Laís estava a mil:
O autor desta música, “Dizem que um homem não deve chorar” (ou “Nova Flor”) é o Mário Zan, aquele tremendo sanfoneiro que é o autor de hino do quarto centenário de São Paulo (tem até uma versão chula que todo mundo cantava, na escola: “São Paulo, quatrocentão…”) e de umas mil músicas famosíssimas (Chalana, Noites de junho, Pula a fogueira, Rabo de galo, Festa na roça, etc).
Pois este genial italiano, radicado no Brasil desde os quatro anos, alegrou milhões de pessoas e, no final da vida, estava pobre. Eu assisti uma de suas últimas entrevistas, nas madrugadas em que fico acordada, onde ele relatava suas dificuldades financeiras e escancarava, para o Brasil, o gesto nobre de Roberto Carlos. Como este começou sua carreira cantando nos bailões de Mário Zan, ao saber de suas dificuldades, ligou para ele e pediu para escolher qualquer uma de suas músicas (milhares), que ele, Roberto Carlos, iria gravar, para que ganhasse muito dinheiro com os direitos autorais. E, assim foi. Ele gravou “Dizem que um homem não deve chorar”, num gesto de gratidão a quem lhe estendeu a mão no passado. A música já havia sido sucesso na voz de Francisco Petrônio, aquele do “Baile da Saudade”. Ouve. É brega? Mas eu adoro! E foi gravada em vários idiomas.
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Pra encerrar, o jornalista João Carlos Machado Filho:
Perfeito, como sempre,ou quase, meu amigo.
Brasileiro tem a mania de querer ser mais intelectual, mais inteligente, mais conhecedor das coisas que as próprias coisas. Uma letra simples, sem o rebuscado que só os iniciados entendem, sempre será considerada brega. Pelos pseudo intelectuais, é claro.
A grande, a imensa maioria vai gostar. Estes, os da maioria, serão os bregas. A meia dúzia será formada pelos que viram o nariz para os que aplaudem Caetano gravando “Que faço da vida”. Já conhecia, sim, esta gravação, tenho num CD que levo sempre no carro. Sabes que sou dos que, na música, admitem gostar de BB King,Johny Winteer, Antonio Carlos Jobim,Chico e também do Nelson Gonçalves e do Mano Lima. Sou brega?