Fim de Semana do Prévidi – 10-11/11/2012 – 2

ELE ESTÁ VIVO!!
SEM ÁLCOOL!!!!!

Cerveja sem álcool pode!!

Quase todos os dias dou uma conferida no Google para ver se encontro alguma notícia do Jaguar. Nada.
Perguntei no FB se alguém tinha notícias dele. Nada.
Há mais ou menos dois meses o meu ídolo fez uma cirurgia para retirada de um (*) – aquela doença ruim, que me nego a escrever – no fígado.
Pois bem.
Hoje, encontrei o cara na Folha de S. Paulo.
Olha só, que legal!!

10/11/2012

05h37

‘Fui corneado por meu fígado’, diz cartunista Jaguar

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

… eu gosto da
cerveja pelo sabor.
Para ficar de porre, eu tomava coisas mais
expressivas.

Pouco depois de completar 80 anos, em fevereiro desse ano, Sérgio
Jaguaribe, o popular Jaguar, recebeu a notícia: ao fim de seis décadas
tendo bebido o equivalente a “uma piscina olímpica” de álcool, seu
fígado sucumbira à uma cirrose avançada, acompanhada de câncer.

Ou operava e parava de beber para sempre ou morreria.

“Eu tinha tanto orgulho do meu fígado, me senti hepaticamente corneado”,
diz o cartunista, tão célebre pelo humor implacável quanto por sua
paixão por um boteco e um trago –não por acaso, um de seus livros
chama-se “Confesso que Bebi – Memórias de um Amnésico Alcoólico”
(Record, R$ 29,90, 160 págs.).

Jaguar recebeu a Folha no apartamento em que vive com sua mulher, a
médica Célia Pierantoni, no Leblon, sentado ao redor de uma mesa que
comprou para o boteco que nunca abriu. Nas paredes, desenhos feitos por
ele e por vários colegas famosos.

Recusando-se a ser chamado de “senhor”, falou sobre sua nova rotina sem o
álcool, seus planos e suas histórias, sempre com a verve afiada que usa
tanto para falar de si mesmo quanto dos outros.

Lembrou ainda de episódios marcantes deste ano, como as mortes de dois
companheiros de “O Pasquim” (Millôr Fernandes e Ivan Lessa) e o
aniversário de 80 anos de outro (Ziraldo).

Ao fim das mais de duas horas de conversa abaixo resumidas, fez apenas
um pedido: ser fotografado com um copo de cerveja –sem álcool– na mão.
“Senão o pessoal não me reconhece.”

Folha – Como está sua saúde?
Jaguar – Em vez de morrer até o fim do mês, talvez eu tenha mais
uns seis meses (risos). Eu estou com cirrose e mais uns três ou quatro
tumores foram extirpados. Fiz um exame na semana passada que mostrou que
eu estou como o Brasil: parado. Não melhorou nem piorou.

A notícia pegou todo mundo de surpresa, não?
Inclusive eu. Andei fraco, me sentindo pesado, e meu médico me mandou ir
a São Paulo fazer exames. Tudo apoiado por minha mulher, que é médica.
Foi a maior burrice que já fiz. Eu não saberia até hoje que estava
doente, estaria tomando minha birita.

Eu fui ao Sírio Libanês, me enfiaram naquele canudo que faz uns barulhos
estranhíssimos, você tem de ficar imóvel. Esse exame exige nervos de
aço, depois dele você pode ouvir o relator do mensalão por 12 horas
seguidas sem mostrar sinais de tédio.

E o mensalão tem rendido muito tema para charge?
Isso aí é até covardia, né, rapaz? Os humoristas não podem se queixar.
Se tivesse de fazer, faria três por dia, as ideias vão aparecendo sem o
menor esforço. Profissionalmente, vou te contar, sou muito bom nisso.
Sou metódico, acordo e leio todos os jornais. E, desde que comecei nessa
profissão, nunca parei.

Nem pretende?
Não. Vou fazer o quê com as piadas que eu bolo? Acho ótimo, é uma maneira de eu sacanear os caras, né?

Tem vítimas preferenciais?
O poder. “Hay gobierno [soy contra]…” Isso é batata. Conheci o Lula
quando o Henfil o levou para o “Pasquim”, eu era amigo dele, mas depois
que virou poder…

Como vai a vida sem álcool?
Estou fazendo experiências, drinques para abstêmios. Faço um Bloody Mary
com o suco de tomate temperado com tabasco, limão, pimenta em pó. E
cerveja sem álcool. Porque, ao contrário de muita gente, eu gosto da
cerveja pelo sabor. Para ficar de porre, eu tomava coisas mais
expressivas.

Foi uma adaptação difícil?
Como dizia Dostoiévski, e o Zé Keti também, o homem se acostuma com
tudo. Eu bebia porque gostava de ficar bêbado. O grande problema é que
eu posso beber o quanto quiser que não fico bêbado.

Fiz uns cálculos: a quantidade de cerveja que bebi nos últimos 50 anos
dá para encher um carro-pipa. Bebi quase uma piscina olímpica. Entre
cinco e dez cervejas por dia. Fora Steinhäger, cachaça, tudo que você
pode imaginar.

Eu me sinto corneado pelo meu fígado. Eu tinha um orgulho dele, rapaz.
Eu não tenho sinais de cirrose, mas a redundância magnética [risos] me
entregou. Eu sou o pé na cova com o aspecto mais saudável que eu
conheço.

Ainda bem. Neste ano já perdemos outros do “Pasquim”.
Este ano foi bravo para o humor. Foi-se o Millôr, foi-se o Ivan Lessa.
Ao Ziraldo, quando me convidou para os 80 anos dele, eu disse que ia
estar no Sírio Libanês. Aliás, queria deixar registrado: a melhor
empadinha de frango do Brasil é na lanchonete de lá. Recomendo
vivamente.

A hotelaria do Sírio é um negócio fantástico, você morre muito bem
(risos). Em suma, não sei quanto tenho de vida, mas é mais do que
esperava.

Sempre disse que quero ser cremado, mas não tenho essa coisa poética de
querer que minhas cinzas sejam espargidas no mar ou debaixo de um
carvalho que meu avô plantou. Não, pega as cinzas, joga no vaso
sanitário e puxa a descarga. Morreu, acabou.

Você tinha um projeto melhor, de distribuí-las pelos bares.
Isso ia ser pela festa. Queria ver se fazia isso antes de morrer; por
que vou ficar de fora? É claro que ia demorar semanas para ir a todos os
bares onde bebi no Rio.

Você mantinha contato com o Ivan e o Millôr?
Tinha muito contato no dia a dia do jornal. Aí, o Ivan foi para Londres, ele me escrevia, mas não sou de escrever.

O Henfil, quando foi para Nova York, me escrevia cartas diárias, eu lia e
não respondia. Uma vez ele veio aqui e me perguntou: “E as minhas
cartas? Queria elas para publicar, porque eu caprichava naquelas
cartas”. Eu disse que tinha jogado fora, não sabia que ele estava
escrevendo para a posteridade, achei que era pra mim. Ele ficou puto da
vida.

Você brigou com Millôr quando ele criticou a indenização que você e Ziraldo receberam do governo, pela ditadura?
Não liguei, não. Ele tinha um espírito, digamos, udenista, aquele
negócio moralista. O Millôr ficava escandalizado com a minha vida, com
minha mania de frequentar favela, ser amigo de Zé Keti, Madame Satã. Ele
ficava apoplético quando me via amicíssimo do [bicheiro] Castor de
Andrade. Mas, para mim, o Millôr é o máximo. É o melhor intelectual
brasileiro, o melhor cartunista brasileiro, qualquer coisa que ele
fizesse, era o melhor.

Como andam suas relações com o Ziraldo?
É quase um casamento, somos amigos há 60 anos, já brigamos uma porrada
de vezes. Agora estamos amigos, ele está curtindo meu câncer à beça
(risos). Mas somos completamente diferentes, inclusive nesse negócio de
aniversário. Ele transformou os 80 dele num evento e ficou chateado de
eu não ir. Ele falou: “Você vai ser a pessoa mais importante da festa.
Todo mundo vai perguntar, ‘cadê o Jaguar?'”.

E como é sua rotina de trabalho atualmente?
Eu trabalho no máximo até as 11h, e o mínimo possível. Faço só o
estritamente necessário: uma charge às segundas, uma às quintas, uma
piada sobre botecos para o “Boteco do Jaguar”. Agora que estou proibido
de beber, vou fazer um livro sobre coquetéis, com historinhas e uma
seleção desses desenhos que eu faço e que saem num suplemento de “O
Dia”.

Eu estava pensando em escrever uma autobiografia, mas o Ruy Castro me
disse: “Não, eu vou escrever, já está tudo na minha cabeça”. Minha
autobiografia escrita por ele vai ficar muito melhor.

Desenhar é algo que consome muito tempo para você?
Não. Desenho rápido, não faço esboço. E não sei desenhar. Aqui no
Brasil, qualquer pessoa que faz alguma coisa por mais de dez anos, mesmo
não sabendo, é considerada boa. Quando mostrei meus desenhos pela
primeira vez ao Millôr, ele falou: “Pô, o seu desenho é péssimo”.

E como um desenhista ruim influenciou tanta gente?
Vendo esses meninos de hoje, sinceramente, não me vejo numa lista de 20
[melhores] cartunistas. Tem o André Dahmer, o Laerte, o Angeli, aquele
Adão, que não sei por que cortou o sobrenome. O Sieber. Eles são
inteligentíssimos. Eu ainda consigo entender todos eles.

RAIO-X JAGUAR

VIDA
Nasceu Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, em 29 de fevereiro de 1932, no Rio

CARREIRA
Começou como cartunista em 1957, na “Manchete”; paralelamente, era
escriturário no Banco do Brasil (onde ficou até 1974); foi um dos
fundadores e o responsável por nomear “O Pasquim” (1969), além de ter
criado o personagem-símbolo do jornal, o ratinho Sig; também participou
da criação do bloco carnavalesco Banda de Ipanema (1964) e da revista
“Bundas” (1999), com Ziraldo. Publica charges e uma coluna semanal no
jornal carioca “O Dia”

PRINCIPAIS OBRAS
“Átila, Você É Bárbaro” (1968), “Ipanema – Se Não me Falha a Memória”
(2000), “Confesso que Bebi – Memórias de um Amnésico Alcoólico” (2001),
“Ninguém É Perfeito” (2008)

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