NÃO ASSISTI AO RAY CHARLES NUM BAR DA CIDADE BAIXA. MAS TENHO
UMA HISTÓRIA BOAZINHA
O advogado Leo Iolovitch é um baita contador de histórias.
Depois que ele publicou o texto ACONTECEU NA CIDADE BAIXA a maioria das histórias sobre Porto Alegre perderam a graça. Envolve um grande ídolo, Ray Charles.
Vai lá, em O Livro na Nuvem:
http://www.olivronanuvem.com.br/site/aconteceu-na-cidade-baixa.html
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Para terem uma ideia do Leo Iolovitch, olha essa, desse ano:
LEMBRANDO NELSON NED
Um amigo muito marrento apareceu no bar falando do extraordinário televisor, que o pai dele tinha comprado. Não satisfeito em exaltar as qualidades do mega produto, nos convenceu a ir até a casa dele ver a maravilha.
Era um trambolho num móvel enorme, que ocupava um quinto da sala.
O irreverente Gordo Abaulo, coçando o saco, (todo gordo irreverente coça o saco) perguntou:
“Quanto o teu velho pagou por essa naba”?
O marrento disse o número aumentando um pouquinho.
Aí o Gordo respondeu:
“Ah! Por essa grana ele podia contratar o Nelson Ned, pra ficar cantando dentro dessa caixa aí e a tua véia ia ficar se babando”…
Em seguida quebrou o pau e foi difícil apartar.
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O BAR DELES
O Bar e Restaurante Van Gogh é um dos mais tradicionais de Porto Alegre. Fica na esquina da Rua da República com a avenida João Pessoa. Há maias de 40 anos.
Quando era gurizão, ia pouco porque era caro. Só no final de noite.
Nos anos 80 fui morar na República e aí era parada obrigatória.
Assim como era parada obrigatória de pessoal da música e do teatro que vinham se apresentar na cidade.
O mais célebre e frequente freguês foi Caetano Veloso.
Uma vez estava no caixa conversando com a esposa de um dos donos – a Mari, esposa do Jair. De repente, surge na nossa frente uma loira enorme, bonita de verdade e pede:
– Me dá dois Charm, por favor.
Ficamos de boca aberta.
Era a Shirley Mallmann.
Conheci o pessoal de todas estas bandas de rock.
Legal mesmo eramos caras do Raimundos.
João Gordo é uma figura.
Mas todos adoravam o Caetano. Era aquele cara afável. Até as crianças apareciam, noite alta,para tirar fotos com ele. E o cara sempre com um largo sorriso.
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A CADEIRA DO CHICO VIOLA E O CAUBY
No Mercado Público de Porto Alegre, além do Gambrinus (cada vez melhor), tinha o Treviso, restaurantes maravilhosos da cidade.O Treviso surgiu na década de 40.
Leia o que escreveu o Júlio Conte:
Chico Viola ou Francisco Alves foi o mais popular artista brasileiro da era do rádio. Uma espécie de pop star muitos anos antes da invenção do pop. Esteve em Porto Alegre várias vezes. Fez temporadas, cantou, se embebedou e foi feliz. Pode-se concluir sobre a felicidade uma vez que ele sempre voltava e frequentava invariavelmente o mesmo restaurante e sentava na mesma mesa e na mesma cadeira no Restaurante Treviso.
(…)
Numa de suas passagens em Porto Alegre veio com Noel Rosa e Mario Reis para uma turné de uma semana que durou um mês. As controversias transitam entre a temporada ter sido um fracasso o que obrigou os artistas a permanecerem mais de um mês instalados em Hoteis da Voluntários da Pátria a espera de numerario para pagar as passagens de volta, ou, a outra versão bem mais plausível, de que teriam se enrabichado por causa de mulheres. Prefiro acreditar nesta hipotese. Sabe-se que Noel teria uma paixão avassaladora por uma menina da vida fácil das redondezas do hotel e para ela teria composto um de seus clássicos. Nestas andanaças, bebedeiras e serenatas, o trio conheceu um soldado do exército que dizia compor musiquinhas. Este soldado de pele retinta e um pouco baixo, mostrou seu repertório e imediatamente Noel, Marios Reis e Chico Viola ficaram fascinados. Foi um mês de farra e poesia. O nome deste jovem compositor era meio estranho, um tal de Lupicínio.
(…)
O fato é que a contribuição de Chico Viola para a cultura gaúcha, levando em conta este estímulo ao Lupicinio Rodrigues já seria o suficiente para ter uma cadeira no céu. Tudo indica que esta cadeira realmente existe e que tem uma réplica pendurada na parede do Restaurante Gambrinus do Mercado Público. Trata-se da mesma da mesma cadeira que ele sentava no Treviso. A doação foi feita pelo criador do Treviso, Tércio Kerber, para o Antonio, lendário criador do Restaurante Gambrinus.
No final dos anos 70 fui ao Treviso com uma namoradinha. E a cadeira estava lá, mostrada e respeitada como um santo.
Lá pelas tantas, entra no salão um monte de gente e no centro uma figura com um terno prateado e gravata borboleta, também prateada.
Era Cauby Peixoto.
Não lembro em qual, mas tinha se apresentado numa casa de espetáculos – sim, eram várias as opções na cidade.
Bebeu alguma coisa, beliscou algo e foi para o palco improvisado. Só um violonista o acompanhava.
Cantou e cantou e cantou. Por mais de uma hora. Em inglês, francês e, claro, português. Conceição repetiu três vezes. E cada vez batíamos mais palmas e ele cantava mais. Sempre com um sorriso.
Um negócio muito legal.
Inesquecível.
A grande estrela musical do show business mundial (e do RS também), Paulo Santana, jamais deu uma canja nos bares citados?!