ROMANCE
Paulo Motta
Certo dia meu tio em pó Demêncio Ventana – cremado, suas cinzas repousam num vidro de caramelos sobre a lareira da Tia Chininha – me confidenciou, irritado, que a Arminda, ermã* do Castelhano da borracharia, queria um romance com ele!
“Pois se quer romance que vá ler um livro, desde que não venha estorvar minha vida, percanta* dos diabos!” respondeu ele, contrariado com a proposta da donzela.
Sei que somos humanos, mas quando nos envolvemos em romances exageramos na humanidade e, invariavelmente, nos tornamos grandes chatos e não paramos de falar no ente querido, no jeito dela-dele, o cabelo, a música, os encontros e desencontros, os apelidinhos cretinos e aquela coisa toda. Até o peido acidental fica engraçado.
Mas o céu dos pombinhos se tornará cor de chumbo quando ela resolver partir e partirá; partirá teu coração, tua alma e te quedarás bêbado, rolando pelos bares e torrando a paciência dos amigos que não te aguentam mais, santa paciência, Batman!
Se tudo estava ruim, ficará péssimo quando tu descobrir que ela está com outro mais bonito, mais forte, que faz academia e nunca botou um cigarro na boca!
A sarjeta ficou pequena e tu mais perdido que pão d’água em aniversário, pobre desgraçado apaixonado e doido. Onde está aquela segurança que alardeavas entre os teus semelhantes, ó pequeno rato? Foi pro ralo junto com o que te restava de auto-estima.
Mas o tempo – ah, o tempo! – vai te curando sem perceberes e, lá um belo dia de outono uma fada-madrinha italiana com verdes olhos de esmeralda, surge por detrás do balcão do armazém do gringo e te diz: “Oi, sou irmã do Giovani e vou passar as férias aqui! Posso te ajudar?”.
As trombetas de Gedeão iluminam tua cara apatetada e a vida volta a florir, sublime, em teu coração, frangalho de gente! E a outra nem era tudo aquilo!
E assim é e assim será por toda a eternidade enquanto estivermos passeando pelo mundo e nos tornando importantes para alguém, a cada momento. O truque está em como nos tornarmos importantes pras pessoas; como cativá-las e conquistá-las sem precisar carrões nem status financeiro. E muitas vezes precisamos saber perdê-las, também.
Acho que um bom começo é dar bom dia aos colegas na segunda-feira. Tá bom, tá bom: boa tarde, depois do almoço já está bom.
Boa janta, gurizada!
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Ermã – Mesma coisa que irmã, na campanha.
Percanta – Moça, mulher