MULHERES
Paulo Motta
Dizem que a mulher se maquia e o homem mente, talvez tenha algum fundamento, mas prefiro pensar que a mulher se maquie para se embelezar e nunca pra ir à guerra, como alguns dizem, também. Vera Regina não se maquiava, era avessa a essas artificialidades; raro isso em mulheres, não é? Pois é.
De apelido Vera Resina – grudava muito – trabalhava no Porku’s, barzinho metido a restaurante, preparando bifes Chuck Norris, nervos de aço, que fortaleciam minhas mandíbulas em frenético exercício maxilar.
Algo me encantava na Vera Regina e eu não sabia bem o que era. Talvez seus cabelos negros que escapavam do lenço na cabeça ou os olhos verdes penetrantes quando perguntava, incisiva: “O que vai ser, hoje?”, não conseguia descobrir, mas ela tinha algum encanto indecifrável, ah, tinha, senhores ouvintes.
Mesmo sabendo que ela poderia grudar, arrisquei um affair com essa enigmática executiva de alimentos; cozinheira, no jargão popular.
Consegui arrastá-la pra sessão da tarde no Cine Imperial, Star Wars, o primeiro. Saímos extasiados daquele show de efeitos especiais nunca vistos pelos nossos olhinhos, e voamos pro Valter comer bifes de verdade.
Começamos um namoro diferente, só podíamos sair às sextas-feiras, quando ela deixava a mãezinha doente aos cuidados de uma vizinha, à noite. Durante o dia a velhinha ficava com a irmã. Uma correria, a vida da Vera Regina, tumultuada. E eu dentro da vida dela, correndo por fora.
Num belo dia meu castelinho de cartas marcadas desmoronou sob a fúria de uma tempestade! Quando perguntei ao dono do Porku’s pela Vera Regina, ele me respondeu que ela pedira demissão e se mudara, com o marido, pra São Paulo, que a família dele era de lá.
Marido? Pois é, marido, ninguém sabia que ela era casada, acreditam nisso? A desgraçada mentiu pra mim esse tempo todo e eu acreditando que, nos finais de semana, ela cuidava da mãe doente, em Gravataí, por aí. Peraí, mas esse papel de cafajeste – nesse caso, cafajesta – não é o homem quem faz, sempre?
Foi uma das primeiras grandes decepções da minha vida, foi mesmo! Adeus, Vera Resina, tiau pra ti. Duas semanas de bebedeiras inomináveis e pronta recuperação emocional, vamos adiante.
Não foi por isso que deixei de confiar, amar e idolatrar as mulheres. Me ensinou a separar o shoyu do tigre, mas nunca a desconfiar das nossas parceiras nessa longa e divertida caminhada que é a vida, amiguinhas e amiguinhos! Vocês são soberanas no meu coração, mulheres, amo-as todas!
Beijão pra vocês nesse dia especial, o Dia da Mulher!