Bom Dia!! Terça, 29 de abril de 2014

O XIXI DO AVELINE

Convivi pouco com o jornalista João Baptista Aveline – nos três anos que trabalhei na Zero Hora poucas vezes ia na redação, porque minha base era na Assembleia Legislativa. Mas tive o privilégio de fazer uma belíssima entrevista com ele, nos tempos em que editei a revista Press. Foi em seu apartamento no Bom Fim.
Guardo dois pontos que destaco de sua personalidade: a maneira que tratava os jovens repórteres, todos de esquerda. E o fato de ter sido sempre comunista, do Partidão.
Li também o seu divertido livro Macaco Preso para Interrogatório. Hoje, não sei se ainda existe nas livrarias, mas se consegue nos sebos.

Ontem li um maravilhoso texto do Fernando Albrecht.
Leia:

 Antes de 1964, prendiam os comunistas e subversivos a toda hora. Como no filme Casablanca, prendiam os suspeitos de sempre. O jornalista João Baptista Aveline era sempre um deles. Qualquer rolo, lá ia ele em cana. O suspeito de sempre. Certa noite, ele e outros comunistas foram presos pelo Dops, a polícia política. Hora do depoimento. O delegado começou com Aveline, seu velho conhecido de tantas prisões. O escrivão botou papel na máquina de escreve, dedos no teclado.
– Nome?
– Não sei – disse o Aveline, marcando bem o “não”
O delegado suspirou.
– Para com isso, Aveline, eu preciso dos teus dados, nome, nome dos pais, essas coisas para teu depoimento. Diz logo para a gente dormir de uma vez, caramba! De novo: nome?
– Não sei.
– Nome dos pais?
O policial ficou uma arara, mas não teve jeito. Vinha a pergunta e a resposta era sempre a mesma.
– Não sei.
– Aveline, se tu não me diz teus dados e filiação vou ter que encontrar duas testemunhas, até achar, até …meu Deus, te deste conta que vamos sair daqui de madrugada? Me dá teu nome antes que eu te mande pro raio que o parta!
– Nãããão sei.
Alta madrugada e todos presos na burocracia dos depoimentos, o delegado com um beiço que ia até do prédio do Dops na avenida Mauá até o Cais do Porto porque perdeu um jantar. E o comunista Aveline ali bem sentadinho, displicente, assobiando ou olhando para o teto. De repente ficou apertado, precisava urinar. Jogou o corpo para a frente.
– Delegado, onde é mesmo o banheiro que esqueci?
O delegado abriu um largo sorriso.
– Não sei.

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