Terça, 17 de junho de 2014 – parte 2

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ponto do dia

OS 73 ANOS DO MACHADINHO

Machado, Ana e, ao fundo, Fernando Pamplona e eu.
No lançamento do “10 Anos às Ganhas”

Não vou dizer que ele é um mito do jornalismo. Nada disso.
É uma pessoa normal. Um cara muito engraçado, com sacadas ótimas. A primeira impressão, ao conhecê-lo, pode parecer “pouco simpática”, mas em poucas horas não tem quem não se “apaixone” por ele. (a Ana que o diga).
Claro, falo do João Carlos Machado Filho, o Machado, o Machadinho, o Velho e, para irritá-lo, a “bicha velha”.
Hoje ele está completando 73 anos. Até ontem estava em casa fazendo nebulização, por causa da asma – coisa de guri fresco.
Sabe? 73 anos a mil, cheio de gás. Uma cabeça muito legal e cada vez mais convicto de suas ideias.
Somos amigos há décadas. Sério, poderia fazer um pocket muito legal de todas as histórias que vivemos juntos. Eu sei, Machado, algumas impublicáveis, como “vilê”, “marisa pneus”, etc. E essas acredito que nem o Julio Ribeiro sabe. Hahaha!!!

Para que os amigos conheçam um pouco mais dessa figura maravilhosa, publico um texto que está no meu primeiro livro, o “Tempos do Róseo – Histórias de Jornalistas.
Velho, como desejo a todos os aniversariantes, “mais sucesso, saúde, grana e muita risada!!!!!!’.

O Machadinho

Nas sextas, lá pelas 10, 11 da noite, uma pilha de focas e de estudantes de jornalismo se encontravam no Bar Pedrini ou no Restaurante Copacabana. Três, quatro mesas. Lá pelas tantas, depois de comer alguma coisa – na época, lá pelo início dos anos 80, tudo era barato – um grupo atacava à noite. Vez por outra íamos a um local chamado Status Club, que ficava na avenida João Pessoa, ao lado do Touring.
Carteira de jornalista ainda valia alguma coisa e dávamos um carteiraço e não se pagava. Baixaria total, mas, afinal, sobrava mais para gastar lá dentro. O grupo era sempre mais ou menos o mesmo, formado pelos efetivos Jalmo Fornari, Roberto Thomé, Luiz Reni Marques, Adriano Gaieski e eu. Mostrávamos as carteiras e os seguranças chamavam o jornalista da casa. Eles já nos conheciam, mas tinham que chamar o jornalista.
Pronto, sempre tinha alguém errado. Não podia entrar de tênis, de calça de brim muito desbotada, camiseta nem pensar. O Jalmo estava sempre errado, invariavelmente de tênis. O jornalista chegava, olhava todas as carteiras como fazia sempre e começava a checagem, um por um. Olhava o cara da cabeça aos pés, com olhar crítico, cara fechada. Aí parava na frente do Jalmo, o mais bagunçado, e quase esboçava um sorriso. Quando chegava nos pés da vítima, aí sim, dava um leve sorriso, devolvia a carteira dele, e dava um tchau com a mão.
Aí estava armada a confusão. Como íamos deixar nosso amigo na mão? Grita daqui, grita dali, solta uma piada e o jornalista da casa já esboçava um sorriso maior. E dizia, sempre:
– É a última vez que esse bagaceiro entra aqui. Nem pagando!
Batíamos palmas para ele e entrávamos felizes. Mas o jornalista voltava para dentro, de cara amarrada conosco.
Em 85 voltei de um período no Rio de Janeiro e fui trabalhar na Assembléia Legislativa. Um mês antes de vir definitivamente, vim cobrir não me lembro bem o quê, e ao chegar na Assembléia me deparo com quem? O tal jornalista do Status Club. Era muita coisa! O cara nem me olhou. Tentava falar com ele, mas era inútil. Um bico daqueles. Até que desisti – e isso que fomos no mesmo carro, num dia, para Caxias do Sul.
Quando comecei mesmo a trabalhar na Assembléia, aí ele teve que se render. Um dia, sentado num final de tarde na assessoria de imprensa, me falou:
– Sabe que eu tinha nojo de ti? Tu era muito chato, uma pose de bola-cheia, não agüentava a tua cara.
– É mesmo? Olha, nunca morri de amores pela tua cara.
E demos boas gargalhadas.
Sabe de quem se trata?
Isso, João Carlos Machado Filho, o Machadinho. Ou Carlinhos, para os de casa. Ou Pote para os iniciados.
Machadinho por razões óbvias – não se pode dizer que é alto. Carlinhos, também. E o Pote, por quê?
Quando ele foi, por um tempo, trabalhar na Editora Press Advertising, sempre estava elogiando alguém, defendendo um que estava sendo gozado, tudo com uma voz de deboche, mas fazia o papel muito bem. Um dia, desde cedo, começou a vaselinagem. Estava até enchendo o saco, particularmente do Adriano, um cara que inclusive fez algumas ilustrações do Tempos do Róseo.
– Olha, Velho, tu estás hoje insuportável. Isso mesmo. Vaselina pura. É, um pote de vaselina.
E casou bem o novo apelido, não só pela vaselina, mas pelo formato do corpo.
O Machado está naquela fase da vida em que já pode entrar pela porta da frente de ônibus. Imaginem o que já não fez na vida. O que perguntar ele diz que trabalhou nisso numa determinada época. Tudo, rigorosamente tudo. No Star Club, um outro local da noite de Porto Alegre, ele era uma espécie de mestre de cerimônia. Já foi até animador de karaokê, porque tem um vozerão do triplo do tamanho dele. Sabe milhares de músicas. Sério, é um excelente cantor.
No jornalismo fez também de tudo. Repórter de rádio, narrador, repórter de jornal, editor, jornalista de web, repórter de TV, assessor de imprensa, tudo.
Só não peçam para ele inventar alguma coisa, o “se virar sem um emprego fixo”. Não, ele tem que ter a carteira assinada. No que, em parte, ele está mais do que certo.
Teve dois casamentos e dois filhos – o Marcelo, que é publicitário, e o João Carlos Machado Neto, que termina o segundo grau. Do Marcelo ganhou o primeiro neto.
Um dos episódios mais curiosos da vida dele deu-se com Paulo Roberto Falcão, o extraordinário jogador do Internacional de Porto Alegre e atual comentarista da Rede Globo. Machado e Roberto Moure, o Pato, eram amigos do Falcão, desde o tempo em que este começava a jogar nas categorias de base do time. O garoto foi crescendo e a fama chegou de forma fulminante. E os três eram inseparáveis, festa e festa.
Até que chegou a proposta do Roma para que Falcão se transferisse para a Itália. O jogador levaria a sua mãe, dona Zize, e um dos amigos. Conta a lenda que Falcão convidou o Machado. Sabe por que ele não foi? Ah, eu não conto. Ligue para ele, para a redação da TVE-RS.
Para encerrar: outro dia estava conversando, numa roda de conhecidos, num final de semana. Lá pelas tantas, um deles começa a contar o seguinte:
– Sabe, vou te contar por que tu és jornalista. A minha filha menor gosta de assistir aos noticiários da TVE porque tem um repórter que ela acha muito bonito. Coisa de guria. E eu comecei a assistir com ela. Lá pelas tantas, entra no ar um boletim em que só aparecia a voz do repórter e no cantinho a foto dele. Olhei aquela foto e pensei: conheço esse cara. No final ele fala o seu nome – Machado Filho. Claro, é o irmão do Dilamar Machado, e foi meu vizinho de Azenha, nos tempos de guri, mas guri mesmo. Cada vez que ele aparece no vídeo a minha filha grita: vem, pai, o velho teu amigo tá no ar!
E no final ele mata o Machadinho:
– Vou te contar uma coisa. Como era cheio aquele baixinho! Tinha uma pose de metido!! Sabe aquele tipo que é dono da bola? É, ele não tinha a bola mas parecia que tinha.
Não adianta reclamar, Machado. Vai reclamar para o teu vizinho de Azenha Fernando Pamplona. Te dou uma pista. Ele mora na Cidade Baixa.
Um beijo, Velho.

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