Segunda, 29 de junho de 2015

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ponto do dia

COLEÇÕES

Nasci numa família de colecionadores.
Não me deixavam brincar com elas, mas meus pais
colecionavam caixas de fósforos, lápis e chaveiros. Eram caixas e caixas de
sapato. Quando nos finais de semana conferiam suas jóias tentava achar graça
naquilo. Mas, afinal, de que adiantava ter aquilo tudo trancado no armário?
Decidi
começar uma coleção. Um amigo que morava no mesmo edifício que eu juntava
tampas de pasta de dentes. Outro se dedicava a juntar maços vazios de cigarros.
Não achava muita graça. Além de álbum de figurinhas de times de futebol, decidi
juntar decalques e plásticos – o que hoje chamam de adesivos. Meu irmão
colecionava flâmulas – os mais novos sabem o que é?
Minha
coleção era grande e não ocupava espaço, facilitando mostrá-la para todos. Mas
numa das mudanças de apartamento ou cidade perdeu-se. Aí não quis mais
colecionar nada.

alguns anos comecei a juntar bótons. Amigos e colegas começaram a contribuir
com a coleção, que reunia numa lata histórica de Justerini &Brooks Ltd.,
que trazia o popular scotch J&B. Tinha muita satisfação de espalhar os
bótons em cima da cama e limpá-los. Eventualmente até poderia mostrar a
curiosos, mas era difícil.
Jóias
inestimáveis.
Perdi
o entusiasmo quando fiz duas viagens. Em Montevidéu, em toda praça, tinha
vendedores de bótons. De todos os tipos. Alguns meses depois fui ao Rio e no
centro da cidade os vendedores estavam em todas as esquinas. Não parei com a
coleção, mas coloco algum na lata apenas quando acredito que realmente seja uma preciosidade, alguma
raridade, como aquele usado pelas aeromoças da Aeroflot, no tempo da URSS.
Depois disso,
convenci-me de que colecionar algo era bobagem.
Mas o sangue de
colecionador continuava nas minhas veias.
——–
Estava
mesmo decepcionado e não pretendia mais fazer uma coleção, mesmo que a mania estivesse
no meu sangue. Tive várias tentações. Numa época ganhei muitas canetas de
brinde e quase começo a guardá-las. Mas um amigo as levou, alegando que as
juntava há mais de dez anos.
Gastei muito dinheiro com coleções iniciadas por meus
filhos. O menor inventou de juntar tampinhas de garrafa. Por onde viajava pedia
tampinhas e as pessoas estranhavam muito, mesmo quando dizia que era para o meu
filho. Depois o outro inventou de colecionar latinhas de cerveja e
refrigerante. Era um inferno, porque era o auge das importações e as lojas e
supermercados tinham novidades todos os dias.
As
duas coleções pareciam minhas. De Nova York trouxe uma pequena valise cheia de
latas, que pouquíssimos conheciam. De São Paulo trazia muitas tampinhas,
principalmente de bebidas nordestinas.
Estava
fissurado pelas duas coleções e eles, como toda criança, sem nenhuma
explicação, desistiram. As preciosas e caras latinhas foram para um catador de
lixo e as tampinhas direto para um saco de lixo.
Era
o fim.
Até
que um dia estava na nossa chacrinha, em Viamão, na Grande Porto Alegre, e
descobri uma preciosidade. Sem ter o que fazer, fui conferir as louças do
armário da sala, uma antiga arca de madeira de lei. Lá estava uma jóia! Um
copo, tipo americano, com uma inscrição no fundo datada da inauguração de
Brasília. Sei lá a razão, mas meu pai esteve lá e trouxe o copo de recordação.
Encontrei
mais um de propaganda de laboratório carioca e outro de um hotel de Poços de
Caldas, cidade de Minas Gerais.
Pronto!
Estava iniciada a minha nova coleção: copos!!
Como
todo bom colecionador fiz loucuras para ampliar a minha nova coleção.
———
Entusiasmado
é pouco para definir a minha disposição de colecionar copos. Todo esforço
inimaginável para conquistar novos exemplares.
Um
dia fui a uma entrevista coletiva no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
Leonel Brizola era o entrevistado durante um café da manhã.
Santo Cristo, o suco de laranja era servido num fino copo com o logotipo do
hotel. Não tive dúvida: quando o garçom passou para recolher o meu, fingi que
ainda tinha o que tomar e fiquei com ele na mão. Terminada a entrevista,
enrolei a vítima numa folha que sobrara dos meus escritos e saí do salão. Um
dos garçons desconfiou do meu pacote e falou com um superior.
Eu
só cuidava os movimentos. O sujeito veio atrás de mim e eu fui conversar com o
então prefeito da cidade, Alceu Collares. Já estávamos no corredor, perto da
porta principal da saída, e o chefe dos garçons me seguia. E eu lá, firme, ao
lado do prefeito, no maior papo.

na rua, dei uma olhada para trás e o sujeito estava com uma cara fechada,
balançando a cabeça, como se eu tivesse furtado um cofre. Me despedi do
prefeito e fui feliz da vida com a minha conquista.
Em
outras oportunidades levei outros tipos, tendo a coleção completa dos copos do
Plaza.
Uma
vez fui convidado para o anúncio de uma empresa paranaense de marketing que
iria se associar com uma multinacional. O ato seria no Hotel Maksoud, em São Paulo. Iniciado
o almoço, quase tive um ataque quando vi os dois copos na minha frente. Ambos
tinham apenas o logo do Hotel. E, mais, copos de cristal. Ao final, fui honesto
ao dizer para um dos garçons que queria levar um dos copos, mesmo que tivesse
que pagar. O cara me olhou e disse que chamaria o seu chefe.
Não
demorou muito e veio falar comigo um dos gerentes de alimentação. Falei do meu
propósito e ele teve uma reação admirável, digna da sofisticação do hotel: “Nós
não vendemos e nem damos de presente o que é utilizado nos nossos serviços. Mas
se o senhor levar o copo sem os funcionários notarem, tudo bem”.
Levei
mais um troféu.
Nos
primeiros meses não fui ao Dado Bier, porque era muito mais um restaurante para
as pessoas se mostrarem do que para provar a cerveja artesanal. Aí fui a um
coquetel na ADVB e o serviço era de que empresa? Do Dado Bier. A cerveja era
servida nos copos do restaurante.
Foi
um dos mais fáceis de levar para a prateleira do meu bar.
Sempre
tento pedir o copo, argumentando que sou colecionador. Assim já consegui
dezenas de exemplares. Por exemplo, em Sorocaba, no interior de São Paulo,
consegui um do restaurante JucAlemão, e na cidade do Porto trouxe, como uma
jóia raríssima, um copo de chope, do “Super Bock”. De hotéis, bares e
restaurantes tenho vários.

Mas
quando um idiota diz que não pode contribuir para a minha coleção, as minhas
estratégias são terríveis.

6 comentários em “Segunda, 29 de junho de 2015”

  1. portal transparência do governo do estado aparecem na tve piratini o nome e os salários de marajás de profissionais nem sempre formados em jornalismo (radialistas)com super salários que variam entre 9, 10, 12 e 20 mil reais.

    1. SUPER salários?!?! MARAJÁS?!?! Com 9, 10 ou 12 mil?????
      O anônimo aí deve tá matando cachorro a grito ou achar que porque o sujeito é servidor público deva morrer de fome…
      Não trabalho na TVE e não sei quem são estes profissionais referidos, se são concursados ou apadrinhados e, PRINCIPALMENTE, se têm capacidade profissional que os faça fazer jus ao que ganham. No entanto, percebo que esta tal de "transparência" vêm se prestando a um denuncismo vazio, muitas vezes alimentado pelo recalque de quem não teve a capacidade de passar num concurso público ou pela inveja de quem não tem Q. I.

  2. Pô Prévidi, faz umas imagens deles e coloca aí no blog. Mata um pouco minha curiosidade. Abraço Jorge Braga

  3. Faz 10 meses que perdi minha mãe pro câncer… neste final de semana estava esticada no sofá da sala da casa dos meus pais e uma luz natural perfeitinha iluminava a linda coleção de cálices de licor que ela, por um bom tempo, organizou. Me senti, de alguma forma, tão perto dela, inclusive lembrando das manhãs de domingo que saíamos juntas pelo Brique procurando os cálices. Nada desesperador, do tipo 'preciso ter um cálice novo pra coleção'. Tudo muito curtido. Abraço, Prévidi!

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