Sexta, 19 de outubro de 2018

Jamais troquei de lado.
Por quê? Eu não tenho lado.
Ou melhor, o meu lado sou eu

ANDO DEVAGAR
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especial

Nesta sexta, uma cesta de
EDUARDO ESCOBAR

Tarefa de gincana encontrar uma foto do arquiteto Eduardo Escobar. Bah!
Encontrei duas. Essa, numa piscina de Viamão:

Mas o arquiteto “não nega a raça”. Gosta dessa:

Conheço o Eduardo há anos. Via Facebook. Pessoalmente ainda não.
É um bom observador de nossos meios de comunicação. Crítico mesmo. E para dar pau em alguém não fica tímido. Somos parecidos.
É arquiteto e urbanista na Prefeitura de Viamão. Formado na UFRGS, nasceu em Porto Alegre mas vive na cidade que adotou. E tem muito orgulho!
Completa 50 anos no próximo 9 de janeiro.

AMIZADES

Numa das tantas releituras de final de ano, tão pobre em entretenimento televisivo, um material sobre a Segunda Guerra Mundial me municiou para mais uma das teorias que perturbam o sono por dias. Muitas não sobrevivem a uma noite de insônia, mas esta insistia com sucessivas reprises, então fiquei na obrigação de registrar e compartilhar com os amigos.
O material falava da banalidade com que os alemães tratavam a questão do extermínio dos judeus. Fiquei particularmente impressionado com o texto de um manual de instruções de uma fábrica de fornos de cremação para os campos de concentração que ensinava, não só como operar, mas também dava dicas para a otimização de seu uso, melhorando o “custo x benefício” do equipamento. Se hoje, lembrar disso só pode nos deixar horrorizados, como deveriam se sentir os que descobriam a crueldade do holocausto judeu naquela época.
Mas não é essa a tese. O que não me saía do pensamento foi como uma nação inteira embarcou nesta loucura, que a mente doentia de Hitler desenhou para justificar a possível dominação do mundo pela raça ariana. E cheguei à triste conclusão de que Hitler não tinha amigos. Isso mesmo, amigos. E nem podia, era louco-de-atar!
E pensar que poderíamos ter poupado o mundo da maior guerra de todos os tempos se o louco ditador alemão tivesse apenas um amigo, confidente, centrado, nem precisava ter um Q.I. muito desenvolvido. Unzinho só, com coragem de enfrentar as ideias malucas do pintor frustrado e combinar a cor das meias com a cor dos sapatos.
– Adolf, tu tá falando de judeus!
– Claro, o que você pensou que fosse?
– Baratas!
– Baratas?
– Sei lá… Ratos, talvez…
– Ratos? Eu estava falando de judeus!
– Mas aquela história de pragas que deterioram a base da sociedade alemã. Corroendo a nossa economia, colocando em risco as nossas famílias…
– Então… Judeus!
– Não Adolf… Baratas! Só falta tu dizer que depois vamos exterminar os ciganos.
– Sim! Malditos ciganos!
– Adolf… Tu tá maluquete… Foi alguma coisa que tu fumou?
Dizem que a História se encarrega de absolver alguns personagens que, em seu tempo, protagonizaram episódios lamentáveis. Isso felizmente não se aplica aos que cometeram barbáries incomensuráveis. E essa minha teoria nem de longe justifica a loucura e as atrocidades cometidas pela onda nazista que varreu a Europa durante pouco mais de 20 anos. Apenas reforço que ditadores, assim agem e se deixam levar por idéias malucas e megalomaníacas, pela simples falta de senso do ridículo e muitas vezes não são salvos de seus devaneios pela falta de alguém que os traga de volta à realidade.
E não escapa nenhum tipo de déspota. Desde os que comandam grandes nações, com ímpetos de conquistar o mundo, até os mais comezinhos e paroquianos. Todos eles carecem de uma mão amiga, de uma consciência externa que remova estes pensamentos mesquinhos e minimalistas que acham que podem resolver tudo extinguindo obstáculos a sua sede de poder.
Sejam estes, seres humanos ou simples baratas.

 –

SERASA ELEITORAL

Já pensou se fosse assim. Você chega a uma loja para fazer um crediário, comprar um televisor ou uma geladeira nova, e o atendente lhe informa:
– Sinto muito senhor, seu crédito não foi aprovado.
– Como assim? Não foi aprovado? Mas eu estou com todas as contas em dia, SPC e Serasa em ordem! – você responde surpreso.
– Parece que é o TRE…
– O quê? TRE?
Aí o vendedor te explica que agora o TRE está controlando os votos, se o político em quem você votou fizer alguma besteira, um deslize que seja, batata: quem votou fica com o nome sujo, até a próxima eleição. Ou até que o deputado, vereador, senador, ou sei lá o quê, seja cassado. Mas ninguém vai ficar sabendo em quem você votou. Só você e o supercomputador da Justiça Eleitoral. Seu voto vai ficar armazenado no banco de dados e ninguém poderá furar o sigilo, a máquina só informará que você votou mal pacas! Não diz nem quem é o cara de pau do político! E vai trancar o seu CPF. Nada de compras pelo crediário. Nada de talão de cheques. Desta maneira você vai ter que puxar pela memória e tentar lembrar em quem votou.
Claro que isso é uma brincadeira, não existe a menor hipótese disso acontecer, mas já pensou se fosse possível? Muita gente iria pensar duas vezes antes de emprestar seu apoio a este ou aquele candidato. E eles, os candidatos teriam que ter mais escrúpulos, para não colocar em risco a capacidade de compra de seus eleitores.
Muitos escândalos e maracutaias talvez não acontecessem porque o eleitor seria mais fiscalizador. Não das atitudes políticas, mas pelo risco eminente de se tornar um frequentador das listas do Serasa Eleitoral.

É PRECISO ACREDITAR

Interessante a repercussão da pesquisa que jornais do Rio de Janeiro realizaram nas favelas cariocas. Perguntados sobre a violência e a repressão policial, a maioria dos moradores afirmou concordar com as ações da polícia, a maneira que esta age e até a imagem do famoso “caveirão”, veículo pesado que mais parece um carro forte para apoio às ações policiais, era aceita pela população. Ou seja, para espanto da elite engajada, sempre a procura de causas sociais para apoiar (indignada com a miséria e a condição do homem comum), na favela tem gente de bem!
Tem gente que não é conivente e não apóia traficante. Não vive e não tolera a condição marginalizada que lhe foi imposta pela hipocrisia do estado brasileiro. Infelizmente o preconceito coloca todos os gatos pardos no mesmo saco. E depois tenta encontrar maneiras de mostrar seu “bom-mocismo” para salvar alguns destes gatos.
E não pense você, que aqui é diferente.
Se você prestar a atenção nos discursos de alguns formadores de opinião das grandes mídias gaúchas, vai notar o mesmo ar de indignação, mas que não deixa de explorar este mote. Na mídia nanica também. É aquele velho jogo de frases feitas e não se engane, posso estar descambando pro mesmo caminho.
Mas o que quero realmente explorar é a condição e o preconceito que às vezes nos torna blindados ao nosso habitat. Tomamos algumas afirmações como verdadeiras e vamos perpetuando e aumentando a realidade, ou, que seja, tornando-a super-real.
Aquela máxima jurídica que diz que “todo mundo é culpado até prova em contrário” nos faz esquecer que devemos acima de tudo acreditar é no contrario: todo mundo é de bem, até prova em contrário. Pare e pense: as pessoas que te rodeiam, teus vizinhos, teus amigos, são pessoas de bem? Então agora aumente seu raio de abrangência. São pessoas de bem que ainda compõem a maioria.
Então não consigo conceber que o “império do mal” esteja nos dominando como querem alguns nos fazer acreditar. E podem ter certeza que não vejo o mundo em tons pastel e não paro pra admirar o por do sol todos os dias. Enxergo o mesmo que você. Moro em ruas cheias de contrastes e vivo rotinas que também me fazem tomar muito cuidado por onde ando. Mas acho que temos que permanecer na mão certa da via.
E pode apostar que não estaremos sozinhos.

NA TAMPINHA

Deve estar perto de completar uma década a decisão da sociedade civil organizada de acabar com os anúncios de cigarro nos meios de comunicação. Hoje publicidade de produtos da indústria do tabaco, acredito que só dentro dos estabelecimentos comerciais que vendem cigarros, e ainda assim discretamente. Afirmam os entendidos que é pra não incentivar as pessoas a iniciarem no vício e não estimular os que ainda resistem no hábito. Mas algumas pesquisas apontam que o vício do cigarro não reduziu tanto assim e que agora as mulheres é que compõem a maior parte do exército de fumantes no país. Fazer o quê.
Lendo artigos sobre o fumo, lembrei dos grandes comerciais que foram banidos de nosso dia a dia e que as empresas fumageiras produziam. Eram comerciais caríssimos e, conseqüentemente, belíssimos. Altos investimentos que só mesmo as milionárias companhias poderiam bancar. Mas os entendidos diziam que aqueles carrões, barcos, modelos estonteantes e roteiros de aventuras, iludiam o consumidor que fumava com uma falsa sensação de poder e sucesso, e isso influenciava também as crianças, induzindo-as às experiências com o fumo. Adoraria pilotar uma Ferrari, mas duvido que o proprietário deste esse ícone do automobilismo mundial permitisse que alguém deixasse seu brinquedo com cheiro de cigarro.
Cresci num ambiente onde tudo poderia me transformar num adulto fumante. Além dos comerciais de tevê que poderiam me influenciar, meu pai fumava, minha mãe fumava, minha irmã também fumava, muitos amigos fumavam, enfim. E tínhamos em casa uma quantidade enorme de cigarros, afinal éramos comerciantes. Tinha acesso às mais variadas marcas, dos sem filtro, os mata-ratos, até os “fliptop”, aquelas caixinhas bonitas que segundo os fumantes, eram péssimas pra guardar no bolso. Mas nunca fumei. Jamais coloquei um cigarro na boca, nem de brincadeira, ou pra experimentar – a famosa “pitadinha”. Não fui influenciado pelo meio, pela publicidade, pela família ou pelo grupo social. Escapei do mal que afligia o sistema nacional de saúde.

Agora, enquanto nosso país se debate por causa da tragédia diária do trânsito, que se discute se é possível reverter esse quadro avassalador de mortes, de pessoas tendo suas vidas ceifadas em números comparáveis com guerras, adivinhem quem são os maiores anunciantes nas mídias de cobertura nacional? A indústria cervejeira. Grandes produções, boazudas, “zecas pilequinhos”, bom humor, gente feliz, tudo pra criar a mesma sensação que os comerciais banidos dos vendedores de cigarro prometiam: uma vida mais “legal”!
Enquanto isso, nossos jovens se matam nas estradas, com garrafas e latinhas compondo o quadro horripilante que nossos telejornais nos mostram diariamente. Já notou que muitas vezes a chamada para o próximo bloco de terror é minimizada exatamente pela peça publicitária da bebida preferida do brasileiro. E ninguém acha isso um absurdo!
Ninguém reclama, nossa sociedade faz passeatas pelo fim da violência no trânsito, cria ONG’s, pinta borboletas no asfalto, pede pros jovens beberem menos, não misturar bebida com direção, mas ninguém tem coragem de dizer: Não beba! Pare de beber! Isso ninguém faz, porque beber é um hábito social tolerado. Perpetuado de pai para filho. Incentivado no churrasquinho de domingo, na reunião de família.
Enquanto isso nossos jovens e nossa indústria cervejeira batem recordes de consumo e produção. E a sociedade assiste tudo calada, condescendente.
Pelo jeito não mudaremos esta realidade tão cedo.

ESSAS RASTEIRAS QUE A HISTÓRIA NOS DÁ

Alguns historiadores sustentam a tese de que a influência de Rasputin, misto de médico e guru, sobre a família real russa no final do século XIX, foi responsável pela série de mudanças políticas que Rússia viria enfrentar até a Revolução de 1917, quando os bolcheviques assumiram o controle daquela nação. Aí durante anos este monge russo pintou de figura importante nos nossos livros escolares, no capítulo dedicado à Era Contemporânea.
Com o passar dos anos, a história, e seus historiadores, puderam notar que na verdade a influência maior era da czarina Alexandra sobre Nicolau, líder do maior império em extensão de então, que com seus devaneios e loucuras na busca de uma cura para o filho doente, cegou o marido para os problemas de um país em ebulição e ansioso por reformas que tirassem o povo de uma vida quase medieval (e isso em pleno 1916, durante a Primeira Grande Guerra).
Esse é só um exemplo de quão fascinante é a história. As inúmeras leituras que se pode fazer sobre um tema, um acontecimento. Marcos históricos podem variar ao sabor das novas descobertas e teorias sempre devem ser bem vindas. Não sou historiador, minha formação é outra, mas até na arquitetura precisamos deste alicerce para reconhecimento da evolução do ser humano e da sociedade.
Há quem diga que a história é contada pelos vencedores. Eu acrescentaria que é contada pelos que detém o poder. E neste raciocínio, ter o poder e não utiliza-lo para reformar a história soa como uma burrice implacável.
Exemplos disso tivemos em dois momentos de nossa história: a influência positivista no início de nossa republica moldou nossos heróis para pintar um belo quadro histórico e depois os “revolucionários” de 1964 adicionaram algumas de suas tintas e estilos para terminar esta obra, que já desbotou, diga-se de passagem. Depois o tempo se encarregou de tornar essas histórias mais ou menos importantes, revelando seus aspectos mais interessantes.
Haja vista que um dos grandes sucessos da releitura de nossa história ser um cara que se firmou debochando da pose histórica de nossos personagens brasileiros.
Contar com bom humor a história pode ajudar a digerir melhor alguns fatos.

Um comentário em “Sexta, 19 de outubro de 2018”

  1. Boa tarde brother! Sobre comerciais de cerveja tem record sendo batido…hehehe tem uma marca que está dando outra ceva se a tampinha for premiada…nos tempos de guri tinhamos essa regalia nos refris…na adolescência/ adulta, aos primeiros tragos, lamentávamos a benesse perdida…hahahahs

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