…
ANDO DEVAGAR
PORQUE NÃO TENHO PRESSA
até o meio-dia
MC CAROL É A LIDERANÇA
CONHEÇAM A CAROL E O QUE
DIZ A “GENIAL POLÍTICA”:
especial
Nesta sexta, uma cesta de
PAULO PRUSS
Paulo e Vanessa Pruss, um casal que gosto muito. Mas muito, mesmo.
A Vanessa é médica e foi a responsável, tipo anjo da guarda, no ano passado, por me “colocar” na Santa Casa de Porto Alegre. Tinham que resolver uma bronca terrível no pé. Perdi um dedo mas ganhei uma querida amiga. Sempre tem uma compensação.
O Paulo conheço dos tempos do PDT. Éramos fãs do Minhoca, o fantástico Carlos Alberto Tejera de Ré, fundador do PDT e um cara que tinha a alegria de viver. Trabalhou com o Mauro Zacher, vereador de Porto Alegre. No Facebook fez uma página de sucesso estrondoso, Porto Alegre Personagens. É fundador da Confraria do Cachorro Quente. Em novembro, quando os Pruss vierem a Porto Alegre vamos nos reunir, provavelmente no Posta del Diablo, na rua Lima e Silva.
O casal e dois filhos moravam no Bonfim.
Sabem onde estão vivendo agora? Em Aracaju! Lá mesmo.
…
Em julho de 2017 foram passar férias em Portugal. Com um azar extraordinário, o Paulo enfartou. Imagina a bronca. A Vanessa voltou e ele foi obrigado a ficar um trempo por lá.
O resultado é que escreveu um livro sobre o país.
Aí embaixo alguns capítulos de uma obra ainda inédita.
Ele começa a tratar de dois bairros sensacionais Bairro Alto e Chiado. Depois de Cabanas de Viriato e Dança dos Cus.
Boa leitura!
BAIRRO ALTO E CHIADO
Terminei o capítulo anterior contando de um passeio, aonde cheguei ao Bairro Alto, esse merece um capítulo a parte, embora em muitos locais de Lisboa no verão as sardinhas assadas nas brasas espalhem seu agradável aroma, na Cidade Alta parece que esse cheiro potencializa e tem mais tradição.
Caetano, amigo desde os tempos de juventude do bairro Glória em Porto Alegre, estava por Lisboa, não tenho bem certeza, mas acho que iria a França ou Espanha, mas voltaria para Lisboa, tínhamos combinado comer sardinhas assada e tomar vinho verde, quase deu certo.
O bairro é o mais tradicional, pitoresco e animado de Lisboa, com ruas estreitas, com calçamento de pedras, muitas calçadas estreitas, bondes, casa seculares, e muita agitação, de dia turistas para todos os lados, à noite a vida noturna acontece no bairro também conhecido como a zona boemia de Lisboa, frequentado por intelectuais, artistas, músicos e muitos turistas em busca de agito e bons restaurantes. Com intensa vida cultural e noturna, mas nem sempre foi assim.
Mas na verdade, o Chiado e Bairro Alto se confundem principalmente para o turista parece uma coisa só, pois foi no Chiado que fiz uma descoberta em minha vida, somente aos sessenta anos e em Lisboa, caminhando após um cafezinho num quiosque de praça, encontrei a Rua Garret que é a principal artéria do Chiado, em frente ao Café a Brasileira, a estátua do poeta e escritor português Fernando Pessoa, ao me aproximar li no chão em uma placa, “Navegar é preciso, viver não é preciso ”, quem não a conhece, em letras menores, “preciso no sentido de precisão”, meu Deus, sempre imaginei no sentido de necessidade, é preciso se expandir, sempre imaginei que fosse uma espécie de ode as navegações portuguesas, mas não, o Poeta se referia a exatidão a precisão do navegar, muito mais que a vida, vivendo e apreendendo, sempre.
A Rua Garret, no século XX era polo intelectual de Lisboa no século 20, a rua abriga muitos prédios Art Nouveau, com livrarias importantes e centenárias, entre elas a Bertrand.
Um dos muitos ícone da Rua, no número 120, está O Café À Brasileira, aqui que se reuniam as grandes personalidades da cultura portuguesa como o escritor Fernando Pessoa. A estátua do poeta em frente ao café é ponto estratégico para a tradicional foto, estava sozinho observando e com um pouco de orgulho do café À Brasileira, quando uma senhora com sua filha, brasileiras, me perguntou se eu queria que elas tirassem fotos de mim, com o poeta, claro que queria, pois elas queriam sair na foto juntas, nos ajudamos.
O Café À Brasileira, foi fundado em 19 de Novembro de 1905, e era especialista ao café brasileiro, logicamente, numa curiosidade seu fundador, Adriano Soares Teles do Vale, nasceu na aldeia portuguesa chamada Alvarenga, a mesma aldeia onde Fernando Pessoa tinha raízes familiares, se mudou para o Brasil ainda jovem, onde fez fortuna, com vários negócios inclusive plantação de café, quando sua esposa adoeceu gravemente voltou para Portugal, ela logo viria a falecer.
Em Portugal fundou uma rede de pontos de venda do café que produzia e importava do Brasil: as famosas “Brasileiras”.
Adriano era uma homem ligado a cultura, com interesses pela musica e artes, fez da Brasileira, o primeiro museu de arte moderna em Lisboa.
Assim À Brasileira tornou-se um café extremamente concorrido com inúmeras tertúlias intelectuais, artísticas e literárias. Também organizou várias exposições.
Caminhando pelo Bairro Alto, ou no Chiado, em várias ruelas, os Portugueses mantém nomes pitorescos, muitos me chamavam a atenção, uns pelo beleza, outras pelas singeleza, outras pelo inusitado, mas o certo é que prevalece o ditado popular, se ficou conhecida pelo povo dessa forma se mantem, isso é tradição.
Já tinha passado pela Rua Triste Feia, e o Bairro do Senhor Roubado, simples O Senhor Roubado foi a imagem do Nosso Senhor Jesus Cristo roubada de uma igreja no século 17, pronto pegou, em minha cidade existiam várias ruas, e becos com essa imaginação popular mas não se manteve como aqui, lá as homenagens passaram por cima do popular.
Lisboa conta com 153 Becos, sendo que no decorrer dos séculos alguns deles ganharam o estatuto de travessa.
Beco do Quebra Costas, devido a seu declive, e muito, fotografei alguns, Beco da Achada, Beco da Amorosa, Beco da Bicha, em Portugal Bicha é o que seria fila no Brasil, e Bicha no Brasil é a apelido depreciativo e bem antigo de homossexual, continuando, Beco dos Contrabandistas, e muitos outros, várias escadinhas levam nomes também, Escadinhas das Portas do Mar, também temos a Escadinha do Quebra Costas, muitas com nomes de Santos, passei e não entrei no Restaurante Cova Funda, no Brasil cova significa lugar para enterrar mortos, o Restaurante era de João da Cova Funda, o Rei dos Grelhados, pensei meu Deus, Restaurante Farta Brutus, deve ser para acabar com a fome de qualquer bruto, Travessa Fieis de Deus, Travessa do Poço da Cidade, autoexplicativo, Travessa da Queimada, coitada, Travessa da Água-da- Flor, bonitinha né ? Calçada dos Barbadinhos, Rua do Alecrim, sem contar a água mineral Penacova, que só pensar em tomar dá calafrios, mas o nome original vem da cidade de mesmo nome, Penacova é uma vila portuguesa do distrito de Coimbra, e o nascido na cidade é conhecido por Penacovense, a origem do nome e a junção de “Pen”, vocábulo cantábrico que originou a palavra portuguesa penha (monte, rochedo) e “Cova”, que deriva da eminência rochosa se erguer de um vale profundo.
Nomes curiosos, ou poéticos das ruas, becos, escadas são muitos, sem dúvida para nós brasileiros tem muita curiosidade, assim como devemos passar o mesmo sentimentos em coisas peculiares do Brasil, esse assunto merece um livro especifico de tão legal que é, quem sabe no futuro.
O Chiado, foi devastada por um incêndio em 1988. Nessa verdadeira tragédia foi perdida parte dos edifícios Art Nouveau do século XVIII, porém para nosso privilégio o Chiado foi reconstruído e remodelado.
Por aqui também passam o bondes, o eléctrico, o 28, amarelinho, o mais famoso de todos, como ir a Lisboa e não comer um pastel de Belém, como ir a Lisboa e não andar no 28 ?
Quando cheguei no Bairro Alto, após ter pego o elevador Glória, o bonde inclinado, o calor era muito forte, muito sol, caminhei até a Praça Luis de Camões, conhecida simplesmente por Largo de Camões, lá avistei o Quiosque Lisboa, antes conhecido por Quiosque Refresco.
Lisboa tem vários quiosques pelas praças, conservados, empresta um ar de antiguidade a cidade, o primeiro quiosque, abriu no Rossio em 1869, e pouco depois surgiram outros, em estilo Arte Nova, no Passeio Público da Avenida Liberdade, serviam taças de vinho e refrescos, lá pedi um cafezinho, conhecido por bica, mas devido aos muitos turistas brasileiros, todos sabem o que é cafezinho, e para depois do cafezinho e continuar minhas descobertas uma água mineral sem gás, pede-se água fresca que é gelada.
Em Portugal como no Brasil, o cafezinho uma paixão nacional, eles adoram marcar com amigos como consequência as inúmeras cafeterias geralmente estão lotadas, estava em pleno verão já acontecia isso, fiquei pensando no inverno como seria.
A Praça de Luís de Camões, ao centro vemos a estátua do poeta de Os Lusíadas, inaugurada em 9 de outubro de 1867, neste local está localizado o consulado-geral do Brasil.
A praça constitui um cruzamento de carreiras dos serviços regulares da Carris, gostei dessa frase e copiei tal e qual, do site Wikipédia, carreiras são o que chamamos de linha no Brasil, e Carris a empresa que opera as linhas, com os elétricos, em Porto Alegre tínhamos elétricos também, porém deixaram de circular, infelizmente, em março de 1970, a empresa que operava também é e era chamada de Carris, e passou a operar exclusivamente com ônibus, sendo uma empresa pública da cidade de Porto Alegre.
Hoje em Lisboa existem seis linhas operando, dirigidos por guarda-freios, condutores, e a Praça Luís de Camões e ponto de passagem das seguintes linhas, 24E, 202, 758 e 28 E o mais famoso de todos mesmo com todo charme ele não atrai somente turista como se pode pensar, ele é essencial para acessar os bairros mais antigos e labirínticos da cidade, como Graça, Alfama e Lapa, então ele faz parte da rotina de lisboetas que precisam acessar essas regiões.
O 28 anda nas ruas estreitas e antigas de Lisboa, com curvas extremamente fechadas que é difícil acreditar que conseguirá realizá-las, subindo e descendo as ladeiras, percorrendo os canto da cidade, é o mais procurado por isso, muitas vezes é necessário uma grande espera, e muitas vezes muito lotados.
Ao todo são cinco linhas operando hoje na cidade, mais duas turísticas que foram criadas especialmente no sentido de desafogar os elétricos de carreira, que são utilizados “de verdade” para o transporte da população da cidade.
A diferença na linha turística é que perde o ar natural, o dia-a-dia, além da passagem ser muito cara, dezenove euros para adulto e a metade para crianças, geralmente está vazio, o preço das linhas convencionais custo menos de três euros, se diferem dos amarelinhos, pois são vermelhos, o sistema usado para essas linhas é o hop-on / hop-off, onde o passageiro pode descer a cada parada para visitar as redondezas e embarcar em outro bonde depois, geralmente usado pelos ônibus turísticos de todas cidades inclusive a minha, a frequência é de 30 em 30 minutos. O passeio todo leva em torno uma hora e meia.
A outra linha turística, é mais curta, mas não menos interessante é a Castle Tram Tour, vai ao Castelo de São Jorge, Baixa e Alfama, trajeto de quarenta minutos esses bondes são verdes.
Depois desse dia quente e de muitas descobertas, só me restava voltar, bem feliz, tomar um banho, descansar e tomar um chopinho no hotel, foi o que fiz.
…
CABANAS DE VIRIATO
Cabanas de Viriato é uma pequena cidade, ou melhor, freguesia portuguesa do concelho de Carregal do Sal, fica um pouco de 250 quilometro de Lisboa.
A referência da cidade é citada, pelo motivo já descrito aqui, as sugestões dos funcionários do Hospital e Pacientes, várias, todas sempre referente ao lugar em que nasceram e sempre uma sugestão de prato de comida, foram tantas que muitas não consegui guardar o nome da pessoa que dava a sugestão, essa por exemplo, simplesmente e infelizmente não consigo saber de quem foi, mas o lugar estava anotado em meu celular.
Quando iniciei minha pesquisa duas coisas de imediato me chamaram a atenção sobre esse lugar, fiquei sabendo da espetacular história de Aristides de Souza Mendes, e sobre a dança dos cus.
Logicamente que a história de Aristides de Souza Mendes, o cônsul rebelde, me chamou mais a atenção, para mim foi simplesmente sensacional, conhecer a história desse verdadeiro herói, a história do carnaval e a dança dos cus é interessante sobretudo para nós brasileiros.
O Cônsul Aristides foi extremamente desobediente, contrariou as ordens do Presidente ditador de Portugal, Antônio de Oliveira Salazar e emitiu 30.000 vistos durante a segunda guerra, embora esses números sejam conflitantes, citam que salvou 9.000 judeus das câmaras de gás.
Aristides de Souza Mendes nasceu em 19 de julho de 1885, formou-se em Direito em 1907 na Universidade de Coimbra, em 1910, com apenas 25 anos de idade iniciou a carreira diplomática. Iniciou seus trabalhos na Guiana Britânica, na América do Sul, onde ficou por dois anos, sendo transferido para Zanzibar na África, depois foi para o Brasil, em Curitiba e em minha cidade Porto Alegre, aqui mais uma surpresa para mim, na verdade não só para mim como para a maioria dos brasileiros, que certamente nunca viram falar em Aristides de Souza Mendes, a história dele é muito parecida com a lista de Schindler, famoso no mundo inteiro depois que o filme fora imortalizada no cinema, escrito por Steven Zaillian e dirigido por Steven Spielberg, baseado no Romance Schindler’s Ark, escrito Thomas Keneally, o filme de 1993 sobre Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto ao empregá-los em sua fábrica. Ele guardou esse segredo por muitos anos, até que um dia sua esposa limpando o sótão de sua casa achou as anotações das listas que salvaram muitos seres humanos.
Retomando a história de Aristides de Souza Mendes que não teve o mesmo glamour de Schindler, após trabalhar no Brasil, foi para os Estados Unidos, ficando em São Francisco e Boston, após Vigo na Espanha, Luxemburgo na Bélgica e finalmente na França na cidade Bordeaux.
Cônsul de Portugal em Bordeaux, Aristides Souza Mendes estava na França desde 1938, com o inicio da segunda grande guerra mundial em setembro de 1939, refugiados de toda Europa começaram uma busca frenética atrás de vistos de entrada em países neutros. Paralelo a isso, o ditador Salazar emitiu uma ordem que ficou conhecida como Circular 14, de 16 de novembro de 1939, que proibia todos os cônsules portugueses na Europa concedesse vistos de entrada a estrangeiros que não tivessem condições de voltar ao seu pais de origem.
Porém, antes disso, no ano de 1937, Salazar publicou vários textos onde criticou os fundamentos das leis de Nuremberga e considerou lamentável que o nacionalismo alemão estivesse vincado por características raciais.
No ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, Aristides desafiou ordens expressas do presidente António de Oliveira Salazar, que acumulava a função de ministro dos Negócios Estrangeiros, e durante três dias e três noites concedeu milhares de vistos de entrada em Portugal a refugiados, principalmente de origem judia que fugiam da Alemanha, mas também outros indivíduos que simplesmente procuravam simples asilo, pois desejavam fugir da França em 1940.
Aristides, escreveu, algumas vezes para Portugal solicitando permissão para emitir vistos, mas nunca teve autorização para conceder tais vistos.
Em maio de 1940, Bélgica, França e Holanda foram invadidas pelo exercito nazista, os refugiados começaram as tentavas desesperadas de fugir desses países, o caminho era Bordeaux, tentativa era chagar e Espanha e Portugal, mais tarde irem para os Estados Unidos.
Salazar lembrou através de oficio, as diretrizes da Circular 14, para todo corpo diplomático. Aristides simplesmente ignorou as ordens, preocupado que estava com os Judeus. Na verdade, Aristides nem sempre seguia regras e protocolos. Segundo a revista brasileira Leituras da História, “entre os que receberam o apoio do cônsul estava o rabino austríaco Arnold Wiznitzer – depois da guerra, Wiznitzer irá se transformar em um importante historiador da comunidade judaica, referência até hoje na história do judaísmo em Portugal e no Brasil colonial”.
Já no mês de junho, os Nazistas se aproximando de cada vez mais de Bordeaux, e o governo francês na eminencia da rendição, Aristides emitia cada vez mais vistos, a pressão era muita, além de seus problemas particulares, adoeceu, ficando de cama por três dias, mesmo assim a produção continuou a pleno, com ajuda de um filho, um genro, dois colegas belgas além do rabino Chaim Kruger, a equipe preparava os vistos e os deixavam carimbados, Aristides necessitava somente assinar, também para acelerar o processo, ele mudou a assinatura, fazendo abreviações.
Com sua carreira em jogo, fez o possível para salvar seus semelhantes das câmaras de gás, contabilizam entre 9 e 10 mil judeus salvos mais cerca de 20.000 para não judeus. Esses dados são contestados por alguns historiadores, segundo Carlos Augusto Fernandes, autor do livro, O Cônsul Aristides Souza Mendes – a verdade e a mentira de 2013, seriam “somente” 2862 vistos a judeus, mesmo assim, partimos da verdade que o escritor tenha razão, é um numero expressivo, ainda mais com risco a sua carreira de uma certa maneira a sua vida.
Para o historiador David Shapiro, da Universidade de Tel Aviv, Aristides era cristão humanitário, um católico devoto e um Português patriota.
Ainda segunda a revista brasileira “Leituras da História”, além dos refugiados comuns que chagavam até o cônsul português, havia personalidades importantes. Entre os que receberam autorização para entrar em território luso estavam membros da família Rothschild, famosos e poderosos banqueiros judeus. Entre os não-judeus, estavam a grã-duquesa Carlota de Luxemburgo, sua família e ministros de seu governo; membros da família imperial austríaca, os Habsburg; o ministro das colônias Belgas Albert de Vlaeschauwer e o ex ministro belga Paul van Zeeland.
Os refugiados eram tantos, que Émile Gissot, o vice-cônsul lhe perguntou o que fazer, “emita vistos para refugiados” foi sua sucinta resposta.
Em junho, no dia 19 de junho foi para a cidade de Bayone, 40 quilômetros da fronteira com a Espanha, onde Faria Machado, chefe da missão portuguesa cumpria fielmente as ordens do ditador e sua Circular 14, Aristides ficou na cidade por dois dias emitindo vistos que garantiriam que os refugiados pudessem chegar na Espanha. Porém essa atitude chamou a atenção das autoridades de Portugal. Armando Lopes Simeão foi enviado por Salazar para ver o que ocorria de fato, Armando confirmou todos movimentos e a desobediência de Aristides Souza Mendes, também notou que multidões se concentravam em frente ao consulado português a espera de vistos.
No dia 24 de junho Aristides Souza Mendes recebeu um telegrama de Portugal, Salazar ordenava que ele se apresentasse urgentemente em Lisboa, ele já estava destituído do cargo. Acabavam as chances dos refugiados judeus deixarem a França.
De volta a Portugal, Aristides Souza Mendes, responde por um inquérito aberto contra ele, em sua defesa Aristides explica sua conduta como “valorosos imperativos de solidariedade humana” evidentemente que não foi o suficiente para Salazar perdoa-lo, o Conselho Disciplinador do Ministério das Relações Exteriores, julgou e considerou culpado, sugeriu que ele fosse rebaixado a cônsul de segunda classe, o ditador que mantinha boas relações com Hitler, não aceitou a pena, em 30 de outubro determinou que Aristides fosse afastado do serviço consular pelo período de um ano, recebendo a metade de seu salário, mas isso não durou muito tempo, em pouco tempo Aristides foi afastado em definitivo do corpo consular sem direito a aposentadoria, também perdeu o direito a exercer a advocacia e ainda perdeu o direito de dirigir, essas medidas o levaram a passar muita necessidade financeira. Teve ajuda da comunidade judaica, ele sua esposa e seus filhos menores conseguiam se alimentar na cantina da assistência judaica internacional em Lisboa e alguns filhos menores, ele teve quatorze filhos com sua esposa, “Gigi”, foram enviados para o Estados Unidos para estudarem. Seus dois filhos mais velhos participaram da invasão da Normandia, o clássico dia D em 1944.
Aristides ainda teve outros filhos, e mesmo com o final da Guerra, Salazar não o permitiu que voltasse a exercer seu cargo, como sua situação financeira só piorava, foi obrigado a vender a Casa do Passal, em sua cidade Cabanas de Viriato
Aristides morreu em 3 de abril de 1954, em Lisboa, após um derrame cerebral, tinha 69 anos, morreu pobre e esquecido.
Em 1966, depois da divulgação das pesquisas de Ezratty, Aristides foi homenageado com a medalha e o título póstumo de “Justo entre as Nações” concedido pela da Yad Vashem, a maior autoridade de recordação dos mártires e heróis do Holocausto.
Sua casa em Cabanas de Viriato, com ajuda de Israel, foi transformada em biblioteca e mais tarde em sede da Fundação Aristides Souza Mendes.
Suas ações em prol do povo judaico são consideradas como a maior ação de salvamento de pessoas na segunda guerra mundial.
“ Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus”.
…
DANÇA DOS CUS
Outro assunto muito característico de Cabanas de Viriato é o Carnaval e a dança dos cus, chama a atenção principalmente para nós brasileiros, pois a palavra cu tem significado diferente, em Portugal é somente a região glútea, a bunda, já no Brasil o termo geralmente é chulo e ofensivo, e significa o anus, no Brasil, o termo além de chulo também é usado para xingamentos em discussões acaloradas.
Quando estava hospitalizado na UTI e não podia sair do leito, no banho que era dado pelas técnicas de enfermagem, era usual o termo “vira o cu”, ou mesmo e mais usado “vira o rabo” “levanta o rabo”. Em meu primeiro banho, quando ouvi a expressão “vira o rabo”, tomei um choque.
Após essa pequena curiosidade, voltemos para o Carnaval de Cabanas de Viriato onde decorre a tradicional dança dos Cus, que é uma coreografia feita por casais.
Segundo a Associação de Carnaval de Cabanas de Viriato o Carnaval é secular e com uma tradição inigualável. A sua forma tão “desorganizada”, espontânea e natural, é de fato cativante e imperdível. Ao som da valsa da Filarmónica, com cabeçudos à mistura, a tradicional dança dos Cus vai ganhando vida.
Também aqui é usado o termo “choque dos rabos” e segundo seus organizadores, o que diferencia o Carnaval de Cabanas de Viriato de outras cidades portuguesas, é não cair na tentação de fazer um cortejo inspirado na tradição brasileira, é louvável essa luta pela manutenção das tradições, que remonta ao século XIX, quando os atores de um grupo de teatro, após um espetáculo no Teatro dos Bombeiros, entusiasmados com êxito obtido, saíram à rua e percorreram a vila ao som de uma valsa, em contradança, daquele espetáculo.
Li muitas matérias em blogs principalmente, de criticas da tentativa de abrasileirar o carnaval ou
entrudo, português, “contudo, infelizmente, e sobretudo em terras mais a sul, o Carnaval degenerou, e não raras vezes vemos uma cópia, ainda por cima barata, do que acontece no Rio de Janeiro ou noutros pontos do Brasil, como na Bahia. Ora, o Brasil, primeiro que tudo, vive uma outra época do ano – estamos no pico do Verão -, e como é evidente, a celebração de cá não deve simular a de lá. Por várias razões, mas salientamos duas: o simbolismo é diferente e a temperatura do ar é radicalmente distinta.
Acaba por ser cômico, para dizer o mínimo, e absurdo, para dizer o máximo, observar cortejos abrasileirados onde mulheres dançam expondo o seu corpo como se estivessem quarenta graus e um sol abrasador colado à pele. Também a música, na sua vasta maioria samba, tenta reproduzir o espectáculo carioca em vilas portuguesas que não encaixam no contexto”. Retirado do ótimo site portugalnummapa.com.
O Carnaval, em Portugal, também conhecido como Entrudo, é uma festa pagã que se comemora sempre numa terça-feira, 47 dias antes do domingo de Páscoa. Não é um feriado oficial e sim ponto facultativo. Diferente do Brasil, o carnaval português é no inverno de fevereiro, enquanto no Brasil, cai em pleno no verão.
Resumindo, a dança dos cus, são pares de pessoas divididas em duas filas, no terceiro compasso da música, três passos e choque o “rabo” com o parceiro.
Em todo país o samba corre solto, Carnaval de Cabanas do Viriato rola valsa, quando o grupo de atores saiu em procissão eufórica para comemorar o sucesso em 1865, a celebração ganhou raízes e estendeu-se. Apareceram bailes e o desfile tornou-se conhecido pela sua coreografia muito especial.
A festa começa uns dias antes, na sexta-feira e sábado, com jantares, música ao vivo e bailes. O Carnaval da Criança é no domingo à tarde. Nesses dias, toda a população sai para as ruas, uns com máscaras outros não, ou participa ou assiste.
O ponto máximo fica por conta da segunda e terça feira, aí sim acontece o grande evento, a Dança dos Cús, cumprindo religiosamente a tradição. Originalmente chamada de Dança Grande, ao som da “Valsa do Carnaval”. A banda para surpresa de quem está festejando pela primeira vez, não aparece uniformizada ou mascarada, parece uma desorganização total. Porém o resultado torna-se muito mais original e, por conseguinte popular. Não é necessários muitas regras para participar, o importante é “chacoalhar o rabo” de vez em quando, tudo é permitido. Ao final do desfile, também ocorre concurso de trajes, individuais e dos grupos, paralelo temos ainda a feira anual, onde se vende de tudo, barracas com muita comida e bebidas, sempre muito concorridas, ajudam para o povo se manter animado nos três dias de folias.
E é assim, popular simples, quem quiser brincar é só chegar, muito espontâneo, faça chuva ou faça sol, a população de Cabanas de Viriato não precisa de grande incentivo para sair dançando e brincando nas ruas. Como diz a organização “é um Carnaval que acontece”!