VINHOS E ESPUMANTES DE UM
EXCELENTE PRODUTOR RURAL
Valter José Potter tem 65 anos, cinco filhas e cinco netos, é o proprietário da Estância Guatambu, que produz novilhos hereford e braford, sementes de arroz, além de soja e sorgo. No final dos anos 1980 recebeu o título do governo federal de “melhor produtor rural” do país. Desde 2003, produz vinhos finos, tendo implantado uma indústria de pequeno porte dentro da Estância, um investimento de R$13 milhões, sendo apenas R$2,8 milhões financiados pelo Badesul. A filha Gabriela, formada em agronomia e com mestrado em ciência e tecnologia de alimentos, foi quem convenceu o pai a entrar no mundo dos vinhos. Ela fez especialização na França.
Os estadunidenses da Califórnia descobriram a aptidão dos campos do Pampa gaúcho para produção de uvas na mesma década de 1980. Na verdade todas as terras situadas nos paralelos 31 e 32 do Hemisfério Sul são regiões produtoras de vinho – na Argentina, na África do Sul e na Austrália. Potter tem outra comparação: em terra que dá bom arroz dá bom vinho. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país, uma cultura irrigada. E a Região Sul, que inclui Santa Catarina, também é a maior produtora de vinhos do Brasil – que por sua vez, é o 16º produtor mundial de vinhos.
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Pegar no pesado
Potter, hoje em dia, se considera um administrador, pois, da mesma forma que coordena a produção de carne, o plantio de pastagens, depois da colheita do arroz, ou a produção de silagem para alimentar o gado no inverno, também está dentro da vinícola. Conheço Valter José há quase 30 anos. E conheço a agropecuária brasileira há mais de 30 anos. É muito difícil encontrar proprietários que peguem no batente diretamente. Por exemplo, nos áureos períodos de combate à febre aftosa, lá estava ele no curral mostrando onde é que a agulha tinha que entrar, para não deixar marca no gado e não prejudicar os cortes do traseiro – a vacina tem que ser aplicada no pescoço do boi.
Entretanto o mais importante sempre foi a eficiência na produtividade, ou seja, se a produção é de carne, quantos quilos por hectare o gado rende. Quem são os melhores reprodutores, e ele foi um dos incentivadores do Grupo Gensys, especializado em melhoramento genético, que foi criado em Porto Alegre e atende propriedades pelo Brasil afora. Ele sempre teve a parceria de Gedeão Pereira, dono da Estância Santa Maria, num sistema de produção, que é definido como “sistema um ano”. Na verdade a intenção é terminar novilhos com 14, 15 meses e colocar em reprodução as novilhas na mesma idade. Gedeão aplica o sistema em Bagé, hoje em dia é dirigente da Farsul, e provavelmente seja o próximo presidente.
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Pampa significa terra plana
A Guatambu Estância do Vinho, localizada a 441 km de Porto Alegre, produz 180 mil garrafas de vinhos finos e espumantes por ano. É o primeiro projeto de enoturismo na campanha, como é conhecida a fronteira do Brasil com Uruguai e Argentina, uma área que ocupa 176 mil km2, com 11 espécies de mamíferos raros e considerados em extinção, assim como 22 espécies de aves. Entre os mamíferos ratos d’água, cervídeos e lobos. Pampa, na linguagem indígena, significa terra plana. É uma região plana, que compreende 63% do estado, com vegetação de gramíneas, herbáceas e algumas árvores. Uma delas é a Guatambu, que dá o nome à estância.
A inauguração oficial, com o prédio em estilo colonial espanhol – 3 mil metros quadrados, com salão de eventos e auditório, além da indústria- ocorreu no dia 6 de junho de 2013. Em oito meses 4.500 pessoas visitaram a Estância do Vinho, como eles definem a Guatambu atualmente. O mais importante: é um projeto sustentável, com aproveitamento de energia solar (fotovoltaica), com captação de água da chuva, com estação de tratamento no padrão da Organização Mundial da Saúde, e com plantio de árvores nativas no entorno, sem contar a reserva da propriedade.
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Rota das vinícolas da campanha
As videiras, importadas da França e da Itália, foram implantadas a 30 km da sede. São 22 hectares das variedades chardonnay, cabernet sauvignon, tannat, gewurztraminer, tempranilla, merlot, entre outras. A região recebe 2.300 horas de luminosidade, durante o período vegetativo da videira, verões são secos e o solo derivado de rochas granulíticas e uma amplitude térmica de 14ºC, garantindo a maturação fenólica das uvas e a qualidade dos vinhos. Dois enólogos uruguaios – Alejandro Cardozo e Javier Gonzalez – supervisionam a produção dos varietais. Todos os títulos dos vinhos – são cinco espumantes e cinco tintos- remetem ao pampa. O vinho tinto reserva Rastros do Pampa, feito com a uva Tannat, recebeu a medalha de ouro no 6º concurso “Emozioni Del Mondo”, na Itália, e foi selecionado entre os 16 vinhos mais representativos da safra 2012 na XX Avaliação Nacional dos Vinhos.
No dia 2 de abril foi lançada em Bagé a Rota das Vinícolas da Campanha. O evento ocorreu na Pousada Maya, propriedade de Zuleika Torrealba, a filha única do armador Wilfred Penha Borges, fundador do Grupo Libra, dono de terminais portuários e do aeroporto de Cabo Frio(RJ), que mantém na região criações de Jersey, Aberdeen Angus, cavalos Puro Sangue Inglês e Crioulos, além de ovelhas e cabras. Ela comprou duas casas coloniais do século XIX, reformou e construiu a pousada acrescentando três apartamentos novos. Junto o restaurante Porão, que tem uma carta de vinhos, baseada na produção de 10 vinícolas da região, que envolve Bagé, Dom Pedrito, Candiota, Hulha Negra, Pinheiro Machado e Pedras Altas. Os vinhos da campanha já representam 15% da produção gaúcha. (Najar Tubino)