PORTO ALEGRE É ASSIM!
Hoje, 242 anos!!
A original
Raras são as cidades com nomes bonitos. Pouquíssimas transmitem algum sentimento. Podemos contar nos dedos de uma mão as que reúnem sonoridade, beleza e felicidade.
Pense. O nosso país está repleto de cidades que homenageiam santos, heróis discutíveis, acidentes geográficos, povos e expressões indígenas e até mesmo animais e tipos de vegetação.
Não se pode dizer que Porto Alegre é única. Muita pretensão, é verdade. Mas, cá entre nós, é um dedo daquela mão – sonoridade, beleza e felicidade acrescidas de simpatia.
Presunção? Pode ser.
Porto Alegre vive o século XXI com peculiaridades interioranas – até em função de um saudável encontro de tipos de todo o Rio Grande, de outras regiões e do mundo – e com particularidades de metrópole. É interessante.
Ao mesmo tempo em que somos a capital dos shopping centers, temos ainda o costume de levar cadeiras para as calçadas para jogar conversa fora e chimarrear com os vizinhos.
Glênio Peres, o nosso saudoso vice-prefeito e vereador, dizia que Porto Alegre é a única cidade do mundo onde as pessoas se chamam de “vizinho”.
Um povo cioso de sua terra admite “modernismos”, mas não permite que se toque em seus orgulhos. Até hoje se lamenta o fim dos bondes, em um tempo em que não se debatia nada, os administradores decidiam e ponto. Em compensação, o porto-alegrense está torcendo por um metrô.
Não, não vamos nem falar do pôr-do-sol mais bonito do universo, porque a partir desta assertiva não há a menor chance de diálogo.
O jornalista Juremir Machado da Silva define a capital dos gaúchos: “É mais que demais, é hiper-real”. Perfeito para todos os egos!
Não duvide de ouvir a frase em qualquer parte do mundo: “Porto Alegre? Bah, Porto Alegre é hiper-real! Tri!”.
O porto-alegrense, que não aceitou a rebeldia dos Farrapos, hoje recebe com satisfação gaúchos de todos os cantos para o Acampamento Farroupilha. O porto-alegrense também é definitivo. A jornalista Vera Spolidoro jura que ir ao Mercado Público basta para conhecer Porto Alegre. Ali está toda a cidade.
Outros podem dizer que a capital gaúcha é o Parque e o Brique da Redenção; o Theatro São Pedro; a usina do Gasômetro; a orla do Guaíba… o Guaíba. Este é um capítulo à parte. Muitos não aceitam o malfadado Muro da Mauá e se envergonham de não poder aproveitar, como todo cidadão de Primeiro Mundo, a razão da existência de sua designação: o Porto.
Mas, bons otimistas, os porto-alegrenses sabem que logo poderão apresentá-la, com inúmeras atrações aos visitantes, e dizer, de boca cheia:
– Porto Alegre é a cidade.
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As outras
Sul-Maravilha, para quem vive no Norte e Nordeste do Brasil, é Rio ou São Paulo. Nós, que estamos no calcanhar do país, não somos considerados. Isso aqui para nortistas e nordestinas é outro país. Sabem apenas que tem frio e o Rio Grande do Sul tem dois campeões mundiais de futebol.
Falo de um modo geral, é claro. Pessoas esclarecidas existem em todas as partes.
A capital deste país – não que considere o Estado dessa maneira – tem um nome muito bonito. Simples e bonito como poucos. Nos povos de língua espanhola são vários pontos turísticos, restaurantes, além de bairros e vias. Tem de tudo. Puerto Alegre, Puerto Alegro são algumas das variações.
Por todo o Brasil a capital é lembrada – praças, avenidas, ruas, vielas, prédios, uma infinidade de homenagens.
O povoado que hoje se chama Porto Alegre, a capital gaúcha, foi formado lá por 1.700 e poucos. Hoje, o aniversário de fundação da cidade é lembrado em 26 de março. Oficialmente começou a contar em 1772. Detalhe: a capital da província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi criada em l773.
O gaúcho é tão cioso das suas coisas que não imagina, porque não aceitaria que existisse, uma outra cidade ou mesmo vilarejo com um nome igual. Admite, apenas, a mineira Pouso Alegre. Sem sorrisos e muito menos reverências. Tolera, apenas.
Mas vou decepcionar a gauchada.
Existem, pelo menos, mais três cidades chamadas Porto Alegre. No Brasil. Municípios, mesmo, com prefeito e tudo de direito.
Prepare-se.
Porto Alegre do Piauí foi criada a 420 quilômetros de Teresina. Numa região danada de braba, o “Polígono das Secas”. É minúscula – pouco mais de 2.500 viventes. Grande parte da população se dedica à produção de alevinos. Também trabalham na mina de calcário, que é para uso agrícola. Divertem-se no Lago de Boa Esperança, onde há um “complexo turístico” com quadra de esportes, campo de futebol, playground e churrasqueiras, numa área de 35 mil metros quadrados.
Porto Alegre do Tocantins é, como a do Piauí, minúscula: 2.500 moradores que se dedicam a plantar maracujá e mamão. Circulam pelo município com exatos 81 veículos. Foi criado em 1988.
Dizem por lá que o nome não tem nada a ver com a capital do RS.
Contam que a denominação surgiu porque lá há um rio (Manoel Alves) e nele um porto no qual tinha uma velha canoa para a travessia das boiadas. Este porto era bom para os viajantes banharem-se e daí originou-se o nome Porto Alegre.
Vivem com toda segurança. Só o nome do comandante da Polícia Militar assusta qualquer projeto criminoso: capitão Dosautomista Honorato de Melo. Te mete!
Porto Alegre do Norte, fundada em 1986, está encravada na Amazônia Legal, no Vale do Araguaia. Mato Grosso. É longe de Cuiabá – 1.125 quilômetros. Atrativos? Faz parte da rota do Rali dos Sertões e os dois rios, Tapiraré e Xavantinho, são fartos em piaus, pacus, pintados, pirarucus e tucunarés.
A economia da coirmã é baseada na pecuária, mas o cultivo do algodão e, principalmente, do girassol tem um bom espaço.
Pouca informação da cidade. E quando se encontra são conflitantes. Mas fazendo uma média pode-se afirmar que são 10 mil norte-porto-alegrenses – 51 por cento na área rural.
O primeiro nome da localidade foi Cedrolândia, devido à grande quantidade de cedro, planta típica da Amazônia usada na construção de móveis. Com o passar do tempo a povoação se concentrou às margens do rio Tapirapé, passando a ser chamada de Beira Rio.
Os comerciantes chegavam em canoas, depois de cinco dias de viagem rio acima. Comemoravam a venda de suas mercadorias com festas no povoado. Para eles era um “porto bastante alegre”, passando a ser assim conhecida.
Deram uma mancada: a Lei 5.306, de 11 de junho de 1981, criou o distrito com nome de Porto Alegre. O município mesmo foi criado pela Lei 5.010, de 13 de maio de 1986, com o nome de Porto Alegre do Norte. O “do Norte” foi acrescido por motivos óbvios.
(Publicado no livro A REVOLUÇÃO DA MINHA JANELA, de 2008)