CADEIRANTES CANALHAS
Escrevo muito tranquilo sobre o assunto.
Quando tinha 19 anos tive um acidente feio, na friuei. Depois de quase dançar, passei dois meses na cama – não levantava nem para fazer xixi – e aí passei para a cadeira de rodas. Era um sacrifício sair. Por vários motivos.
Na década de 70 as cadeiras eram muito pesadas, eu era – e sou – grande, as calçadas não tinham rampinhas, o edifício em que morava tinha uma escada interna, de oito degraus, entre outras situações. O pior é que o sujeito numa cadeira de rodas era apenas um aleijado, ninguém dava bola, e eu me sentia assim. Até porque não sabia se ia andar.
Tinha que fazer fisioterapia todos os dias. Morava na avenida Venâncio Aires e a clínica era na rua Santa Terezinha. Minha mãe não conseguia me levar sozinha. Aí, um amigão, fazia o serviço – Djalmo Cardoso Barcellos. Claro que outros também me conduziam, mas na maioria das vezes era o Djalmo.
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Hoje, quem está numa cadeira de rodas é chamado de cadeirante e muita gente, na rua, dá força. Tem umas com motor. O cara pode usar até ônibus!! Em toda Porto Alegre tem rampinhas, mesmo que algumas sejam mal feitas. O aleijado ou cadeirante, hoje, pode sair pra rua sozinho, mesmo com alguns problemas pontuais. Mas nada parecido com o que passei como cadeirante temporário.
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Outro dia, o Jornal Nacional mostrou um cara que se passava por aleijado. E ganhava uma boa grana nas sinaleiras de Belo Horizonte. Na real, ele simplesmente tirava mais uma grana daqueles que, sei lá, com a consciência pesadíssima, dão esmola para tentar amenizar as merdas que fazem. O malandro tirava dinheiro de otários, só isso.
Agora, tem um outro tipo que seria preso, por 10 anos, se vivêssemos num país “menos” democrático e com “menos” respeito aos direitos humanos.
Três exemplos.
– Outro dia estacionei ao lado de uma vaga para cadeirante. Tinha um carro lá, com aquele adesivo, que está lá em cima, no para-brisa. Deu uma baita casualidade e voltei para o estacionamento junto com o tal cadeirante. Cadeirante? O sujeito entrou faceiro no carro, meio saltitante, e saiu em disparada.
– Estava na frente do prédio da matriz do Banrisul, no centro de Porto Alegre. Estava fumando para entrar. Notei que na frente tinha uma vaga para cadeirante. De repente, estaciona um desses carros populares, de duas portas. Primeiro, desce uma mulher e sai rápida. Pensei: como o carro tinha o tal adesivo, o cadeirante ficou esperando a moça; Que nada!! O sujeito estava colocando uma tranca no volante. E do carro sai um cara enorme, parecia lutador de MMA. Trancou o carro e se mandou.
– Neste final de semana, fui na sacada de casa fumar. Olhei pra baixo e tinha um cara cambaleante, arrumando as calças, a camisa. Tentava se pentear mas faltava coordenação. Ele colocou a chave no carro e dá aquele toque de alarme. Aí que noto o detalhe: tinha no painel o adesivo lá de cima. E ao lado, uma plaquinha branca, de repente com aquele papo, pedindo “a contribuição de todos para o cadeirante”. Olha, em português claro, o motorista do carro não caminhava bem porque estava completamente bêbado!!
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Esse tipo de gente também não merece curtir uma cadeia???
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Quem é que fornece esse tipo de adesivo? Aliás, esse indicativo não teria que ser móvel – ou seja, retirado quando o cadeirante não estiver dirigindo ou sendo conduzido? Pelamordedeus!!
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Quem é que fiscaliza?????
Ou melhor, quem não fiscaliza?