Fim de Semana do Prévidi – 22-23/9/2012

FORTUNATI PODE VENCER
NO PRIMEIRO TURNO
(aí também estaríamos livres de outra campanha)

Está na Zero Hora de hoje, sábado:

Pesquisa mostra o atual prefeito
com 45% das intenções de voto,
seguido de Manuela D’Ávila, 28%,
e Adão Villaverde, 10%

A segunda pesquisa Ibope realizada em Porto Alegre desde o início oficial da campanha eleitoral mostra o prefeito e candidato à reeleição, José Fortunati (PDT), à frente na disputa, com 45% das intenções de voto.

Se a eleição do dia 7 de outubro fosse hoje, Fortunati teria 17 pontos percentuais a mais que a segunda colocada, Manuela D’Ávila (PC do B), que aparece com 28%. Adão Villaverde (PT) está em terceiro, com 10%.

Fortunati apresenta melhores índices entre as mulheres (47%), eleitores de 40 a 49 anos (49%) e acima de 50 anos (50%), com ensinos Médio (48%) e Superior (47%) e renda familiar acima de cinco salários mínimos (49%). Manuela obtém melhor desempenho entre os eleitores de 16 a 24 anos (46%).

De acordo com o levantamento, a candidata do PC do B é a que apresenta a maior rejeição (20%), seguida de Villaverde (19%). Os maiores percentuais de rejeição de Manuela estão entre as mulheres (22%), eleitores acima de 40 anos (23%), com curso superior (24%) e renda familiar acima de cinco salários mínimos (28%).

Em relação aos votos válidos (quando são descontados do cálculo os votos em branco e nulo), Fortunati aparece na pesquisa com 52%, Manuela 32% e Villa, 11%. Se a eleição fosse nos dias da realização da pesquisa, não haveria segundo turno, pois Fortunati ultrapassou os 50% dos votos válidos.

Na simulação de um segundo turno, Fortunati tem 53%, 22 pontos percentuais a mais que a candidata do PC do B. Nessa simulação, o atual prefeito obteve o melhor percentual entre os eleitores com mais de 50 anos e renda familiar acima cinco salários (58%).

Fim de Semana do Prévidi – 22-23/9/2012

É LONGO, MAS VALE A LEITURA.
DO CRISTÓVÃO FEIL – http://diariogauche.blogspot.com.br/

A invenção do ‘gaúcho’
e a maldição conservadora no RS


Antes de entrar no tema que quero comentar, chamo a atenção para o “Desfile Cívico-Militar do Vinte de Setembro” (conforme consta da programação dos seus organizadores, os dirigentes do MTG – Movimento Tradicionalista Gaúcho) que está se desenrolando hoje, precisamente 20 de setembro de 2012. 
Quero sublinhar a ênfase na expressão “cívico-militar” dado pelo MTG, em pleno século 21. Me explico. Ninguém desconhece a filiação positivista-comtiana dos republicanos brasileiros, na segunda metade do século 19. No Rio Grande do Sul, onde a República aconteceu depois de uma revolução cruenta que durou de 1893 a 1895, os positivistas foram mais radicais e, por isso, mais exitosos do que no resto do Brasil. Julio de Castilhos e os militantes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) modificaram completamente o cenário político e social do estado mais meridional do País. No RS não houve a chamada troca de placa: sai a Monarquia dos Bragança, entra a República constitucional. Aqui, houve a mais completa e absoluta troca da elite no poder. Saem os velhos estancieiros pecuaristas da Campanha, entra uma composição de classes formada por uma pequena burguesia urbana, uma classe média rural, profissionais liberais e colonos de origem europeia da região serrana.
Os positivistas sulinos, fiéis aos ensinamentos dogmáticos de Auguste Comte, propugnavam – como o mestre – pela superação das fases pregressas da Humanidade. À fase militar-feudal deve seguir-se a fase industrial da Humanidade. Ou seja, à fase militar corresponderia a insurreição farroupilha de 1835-45 contra o Império do Brasil, agora – com o advento republicano – estávamos, pois, na hora de criar condições para o desenvolvimento e o progresso material que se daria por um processo intensivo de industrialização manufatureira. 
    
Vejam, pois, que os tradicionalistas do século 21 continuam com os olhos fixos num passado praticamente feudal, marcadamente militarista, embora não tenhamos experimentado, de forma hegemônica e total, esse modo de produção pré-capitalista no Brasil.  
Um dos formuladores intelectuais do que chamamos de ordem delirante do atraso – o pensamento tradicionalista da estância – foi Ramiro Frota Barcellos. Na obra “Rio Grande, tradição e cultura” (1915), o santiaguense é de uma clareza solar quanto aos propósitos enfermiços do tradicionalismo estancieiro: “O que agora se verifica, mercê do atual movimento tradicionalista, é a transposição simbólica dos remanescentes dos ‘grupos locais’, com suas estâncias e seus galpões para o coração das cidades. Transposição simbólica, mas que fará sobreviver, na mais singular aculturação de todos os tempos, o Rio Grande latifundiário e pecuarista”.
Qualquer semelhança com o enclave da bombacha e da fumaça que anualmente acampa, no mês de Setembro, no Parque da Harmonia, em plena área central de Porto Alegre, não é mera coincidência. A “mais singular aculturação de todos os tempos”, como premonitoriamente afirma Barcellos. Neste caso, “aculturação” é sinônimo de regressismo e estagnação.
É sobre isso que eu quero comentar brevemente.
Quando estudantes em São Paulo, Júlio de Castilhos e Assis Brasil chegaram a fundar um chamado “Clube 20 de Setembro”, que promoveu estudos – com algumas publicações – sobre o movimento farroupilha da primeira metade do século 19. Curiosamente, Castilhos abandonou as pesquisas sobre a guerra civil que varreu o Rio Grande por dez longos anos. Assis, em 1882, publicou a obra “História da República Rio-Grandense”. Por algum motivo, carente de melhores investigações, tanto os positivistas do PRR, quanto os liberais sulinos não foram muito enfáticos no culto farrapo. Tal fenômeno veio a ocorrer somente depois da Segunda Guerra, em Porto Alegre, no meio estudantil secundarista urbano do Colégio Estadual Julio de Castilhos. Daí se difundiu como rastilho de pólvora sob a forma dos onipresentes Centro de Tradição Gaúcho – CTG, que são clubes de convivência social onde se cultua o passado sob a forma fixa da mitologia farrapa, tendo como matriz formal a estética e o ethos do latifúndio da pecuária extensiva de exportação – subordinado à cadeia mercantil dos interesses hegemônicos ingleses na América do Sul. Quando os tradicionalistas se ufanam do pretensioso espírito autônomo e emancipado do chamado ‘gaúcho’ tout court, se referem ao Império dos Bragança, mas esquecem a dependência econômica e subordinação negocial estrita com os interesses ingleses, via portos de escoamento no Prata (Montevideo e Buenos Aires). 
[Das relevantes realizações modernizantes do castilhismo-borgismo foram a estatização e incremento do porto de Rio Grande, bem como a encampação das ferrovias controladas por capitais europeus, de forma a dotar o estado de infraestrutura e fomentar o desenvolvimento, sem depender do Rio ou do Prata.]   
A grande data a comemorar no Rio Grande do Sul, pelo lado do senso comum, é o 20 de Setembro, que marca o início da insurreição farroupilha (é um equívoco chamá-la de “revolução”, uma vez que os rebeldes foram derrotados pelo Império e não ocorreu nenhuma modificação política, social ou econômica na província sulina depois de 1º de março de 1845, na chamada Paz de Ponche Verde). No entanto, se houve revolução no sentido rigoroso e clássico do termo, esta ocorreu a partir da promulgação da Constituição Rio-Grandense, e da posse do governador (então, presidente do Estado) Julio de Castilhos, no dia 14 de julho de 1891. Meses depois, os conservadores e latifundiários alijados do poder, eternos aliados e sustentáculos da Monarquia, deram início à luta armada contra os jovens que governavam o Rio Grande (Castilhos tinha 30 anos quando assume a presidência do estado). A partir da revolução cruenta, se inicia um processo de grandes modificações e modernizações no RS. Em 1902, já com Borges de Medeiros no poder, depois da morte precoce de Castilhos, o estado passou a tributar com impostos progressivos as terras privadas, bem como reaver dos estancieiros as imensas glebas públicas apropriadas ilegalmente durante todo o século 19.
    
A hegemonia política do castilhismo-borgismo perdura até a década de 1930. Getúlio Vargas foi presidente do estado de 1928 a 1930, quando sai para o Catete, e já deixa um governo mais conciliador com os conservadores da Campanha.

Os modernizadores esqueceram a superestrutura, e os conservadores ocupam o espaço  

É intrigante, pois, que a apropriação do imaginário social tenha se dado pelo lado dos conservadores, através do simbolismo inventado do 20 de Setembro, e não pelas forças burguesas, progressistas e renovadoras do Rio Grande do Sul, que seria pelo 14 de Julho.
                  
Eric Hobsbawn e Terence Ranger que estudaram o fenômeno da chamada “invenção das tradições” suspeitam que quando ocorrem mudanças sociais muito bruscas e profundas, produzindo novos padrões com os quais essas tradições são incompatíveis, inventam-se novas tradições e novos imaginários de identidade social e cultural. Para os dois autores britânicos, a teoria da modernização pode sim conceber que as mudanças operadas pela infraestrutura da sociedade demandem tradições inventadas no plano da superestrutura.
Neste sentido, a revolução burguesa positivista-castilhista de inspiração saint-simoniana, introdutora do Estado-Providência, mobilizou somente as instâncias da infraestrutura (base material e econômica), deixando uma vasta lacuna, um boqueirão ideológico, diríamos, na esfera da superestrutura. 
Assim, teria restado um formidável vácuo em distintos setores da vida social e no espírito dos indivíduos, como nas artes, no pensamento político, no Direito, na identidade, nas subjetividades individuais e de grupos, na cultura e no imaginário como um todo. O homem é, antes de tudo, um animal simbólico, e este domínio da razão e da cultura foi deixado vago, motivado, talvez, pelas duras urgências da vida real, mas também – suspeito eu – pelo próprio autoritarismo do poder estendido do castilhismo-borgismo.
O tradicionalismo seria, assim, um desagravo mítico-ideológico dos derrotados de 1893/95, os mesmos derrotados de Ponche Verde. Uma vingança de classe – a do latifúndio subalterno e associado – contra a modernização burguesa do positivismo pampeiro, seria isso? Uma maldição contra o futuro do Rio Grande? “Vocês estarão condenados a viver no passado, em meio à fumaça e o cheiro de esterco, festejando derrotas, e considerando heróico, cavalgando durezas e incomodidades, e considerando genuíno, fruindo uma arte primária e mambembe, e considerando autêntico, cultuando velhos ressentimentos e considerando lúcido, ignorando o rico mosaico cultural da província e considerando o tradicionalismo de matriz latifundiária como a síntese de tudo. Vocês são os gaúchos, velhos vagabundos redimidos, são os heróis de um passado que nunca existiu” – foi a sentença de fogo dos que trouxeram o tradicionalismo como vanguarda do atraso no pensamento guasca. 

Sexta, 21 de setembro de 2012 – parte 3

O CARA É FERA!!

Como não tenho a pretensão de ser crítico de qualquer mídia, ainda não conhecia o repórter da RBS TV Eduardo Costa. Bah, vi ontem em um trecho do Jornal do Almoço.
O cara tem tudo para ser o bambambã da emissora.
Certamente vai ser apresentador.
Aliás, por que as gurias dominam a apresentação dos telejornais?
—–

NÃO INTINDI

O Jorge Loeffler enviou notícia do Correio do Povo:

Rua da República passa a ser patrimônio natural da Capital
Via fica no bairro Cidade Baixa
Claro que fui ler, porque moro na própria e descobrir as vantagens.
Porto Alegre vai ganhar mais um túnel verde. Na sexta-feira, Dia da Árvore, a Prefeitura formaliza um decreto declarando a rua da República, no bairro Cidade Baixa, Área de Uso Especial, para integrar o Patrimônio Natural e Ecológico da cidade. Pelo decreto, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) fica encarregada de fazer o manejo permanente da vegetação (poda, plantio e remoção), respeitadas as características originais da flora local.


O grifo é meu.
Há mais de 20 anos que vivo aqui. JAMAIS a Smam veio atender a um pedido de poda. Só a CEEE corta os galhos que estão atrapalhando os fios.
Sabem quem faz a “poda”, também? Os grandes caminhões. Eles estacionam e levam grandes galhos. Especialmente os de entrega de bebidas. Os jacarandás sofrem muito na rua da República.
É phoda.
—–

ASSIS BRASIL SILVEIRA INFORMA

Como eu previ com muita antecedência, o Fetter está sendo contemplado com
uma CPI. Pedido foi protocolado no final da manhã desta
quarta-feira.

Videos com imagens comprometedoras já estão nas redes
sociais. É a chamada CPI do Zé Gotinha, que é o assunto mais comentado na
cidade.
Detalhes no www.poucaseboas.net

O primeiro
video comprometedor com a voz do vice é este que está no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=n0_BLBOsMrE

——

ZH TERMINA BEM A SEMANA!!

Eduardo, de Porto Alegre, envia:
Zero Hora “on line”, dia 21/09/2012. 9h22min, :
“Dia começa NEBULOSO, mas sol
deve aparecer”.

E ainda querem cobrar ….

Assim o Homer Simpson, o nosso Décio Piccinini dos Pampas, vai terminar arrancando os últimos cabelos!!
—–

3 PIADINHAS LEGAIS!!

No http://piadinhas-do-dia.blogspot.com.br/
—–

CONVERSA DE BAR

Fabiano Brasil:
O programa Conversa de Bar volta ao ar para sua 4.a temporada na TV no dia 27 deste mês de setembro na POA TV, canal 6 da NET/POA. A exibição inédita será sempre nas 5.as Feiras as 21h. A apresentação seguirá com o jornalista Fabiano Brasil, que segue como profissional contratado do Grupo Bandeirantes de Comunicação. ” – Realmente estou muito fleiz em retomar esse projeto que tem dado tão certo nos últimos 2 anos.” Disse Brasil. A edição e captação de imagens também não sofre interferências. Ricardo Pantaleão, proprietário da RP VÍDEO PRODUTORA  e com mais de 10 anos na TV será o responsável técnico enquanto Brasil será o Diretor Editorial. A informalidade, bom humor e os ambientes externos seguirão como o ponto diferencial da atração. O Conversa de bar permanecia sendo veiculado na internet com edições mensais e atráves do www.programaconversadebar.blogspot.com.
—–

RADAR METEOROLÓGICO

O RS integra o grupo de estados brasileiros que receberá um radar meteorológico, por meio de licitação encaminhada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
O edital para aquisição do equipamento está em fase final e  será publicado nos próximos dias.
A compra do radar, essencial para a antecipação de fenômenos climáticos como chuvas, ciclones e estiagem, é complementar à estruturação de um núcleo de enfrentamento aos Desastres Nat urais, projeto em construção entre os Governos Estadual e Federal.
As ações foram tratadas em uma série de reuniões realizadas em Brasília, nesta semana, pelos secretários do Planejamento, Gestão e Participação Cidadã, João Motta, de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano, Luiz Carlos Busato, pelo superintendente da Metroplan, Oscar Escher, e pelo chefe do escritório de representação do estado em Brasília, Hideraldo Caron, nos Ministérios do Planejamento e de Ciência e Tecnologia.

—–

3 PIADINHAS LEGAIS!!

No http://piadinhas-do-dia.blogspot.com.br/

Sexta, 21 de setembro de 2012 – parte 2

20 DE SETEMBRO NUNCA MAIS 
Janer Cristaldo – http://cristaldo.blogspot.com.br/
Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.

Mostremos valor, constância,
nesta ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda terra.

Entre nós revive Atenas
para assombro dos tiranos;
sejamos gregos na glória
e na virtude, romanos.

Mas não basta p’ra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.
Nossas façanhas? Que façanhas? Que aurora precursora? Que farol da divindade? A propósito, que divindade? Que Atenas revive entre os gaúchos para assombro dos tiranos, logo num Estado cuja capital até hoje homenageia um de seus ditadores, Borges de Medeiros, o presidente do Rio Grande do Sul durante 25 anos? O hino rio-grandense, como em geral todos os hinos, é de um ridículo atroz. 20 de setembro é data inventada pelos palhaços e parasitas de Estado, que um dia criaram os ridículos CTGs. A celebração se opõe ao 7 de setembro. É curioso ver esta chusma de chupins, que se pretendem brasileiros, comemorando na tal de Semana Farroupilha um movimento que pretendia separar o Rio Grande do Sul do Brasil.
Mas o 20 de setembro é data para mim muito cara. Não pelas fanfarronices dos rio-grandenses que se dizem gaúchos. Mas por algo mais singelo, o encontro com a mulher que mais amei. Não prometi nada na ocasião. Pode ser que amanhã isto não se repita. Pode ser que se repita pelo resto dos anos. Faz hoje 45 anos. Repetiu-se por 38 anos, e mais não se repetiu porque a vida não quis. Vinte de setembro era para nós, não o dia da independência gaúcha, mas de nossa independência. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. As nossas, bem entendido. Não as supostas façanhas dos sedizentes gaúchos.
Como o 20 de agosto, data em que ela partiu, o 20 de setembro também me machuca. Eu tinha 17 anos, ela 18. Adolescente, não imaginava que naquele dia estava elegendo a companheira de toda uma vida. A cada 20 de setembro, cantávamos: “foi no 20 de setembro…” Mas não estávamos comemorando nenhuma efeméride gaúcha. 
Trinta e oito anos. É mais vida que a de Alexandre, que só viveu trinta e três. Certo, o peoniano conquistou mais mundos do que eu. Admiro Alexandre, é um de meus heróis. Mas não o invejo. Conquistá-la alegrou mais minha vida do que se tivesse conquistado impérios.
De lá para cá, se passaram mais sete anos. Quando ela partiu, imaginei que não sobrevivesse muito. No entanto, cá estou. Como dizia Fierro,
solo queda al desgraciao,
lamentar el bien perdido. 
Percorremos o mundo naqueles anos. De Roma a Estocolmo, de Lisboa a Viena, De Nova York ao Quebec, de Buenos Aires a Santiago, de Atenas ao Cairo, do Assekrem a São Petersburgo. Quando morei em Estocolmo, ela ficou em Porto Alegre. Nos encontramos, aos prantos, no Rio. Quando morei em Madri, ela estava em Paris. A cada quinze dias, alguém pegava um trem e atravessava França e Espanha, para fazer a festa. 
Com ela, me despedi chorando de Madri. Estavámos em uma bodega na Huertas, mulheres cantando e dançando, bom vinho e cheiro bom de assado. Quando senti que em duas horas estaria em Barajas, voltando para o Brasil, comecei a chorar. Não pela perspectiva de voltar ao Brasil. Mas por estar abandonando a festa. Fui chorando até o aeroporto e o taxista não entendia porquê. Estava abandonando uma mulher que muito amava, a Espanha.
Por alguns anos, viagens nos separaram. Voltávamos correndo um para o outro. A cada vez que o avião decolava, ela me apertava a mão e me interrogava, com um sorriso que até hoje me faz chorar: “on y va?”. Sim, on y va. Agora, on n’y va plus. A vida continua. Se feliz ou infelizmente, ainda não decidi.
“Fazes falta? – pergunta Pessoa –. Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém… Sem ti correrá tudo sem ti”. Não é bem assim. Pessoas fazem falta, meu caro Pessoa. Sei do que falo. Cada 20 de setembro me pesa como toneladas sobre a alma. Muitas vezes me perguntei se não seria melhor ter como companheira uma mulher abominável. Quando ela morresse, seria como uma libertação. Pergunta besta. Melhor ter uma mulher adorável, mesmo que se sofra depois. Já que falei de Pessoa, recorro à sua tradução soberba de Poe:
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
perdido murmurei lento, “Amigos, sonhos – mortais
todos – já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo: “Nunca mais”. 
Sei, amanhã também me irei. E não será tarde demais. Iremos nós todos. Até lá, resta afagar os bons 20 de setembro que um dia tive. Que não voltarão jamais. 
(*) 20/09/2010