Antes de ser um mecenas, milionário e cidadão do mundo, o meu amigo Alfredo Octávio é jornalista. Está no seu DNA. Acreditem, não sabia que estava em Porto Alegre. Ontem, de manhã, atendo o telefone:
– Olá!
– És tu?
– Quem fala?
– Teu amigo e ídolo, Alfredo Octávio!
– Onde tu andas? Em São Paulo, Paris ou Bujumbura (capital do Burundi, onde é Embaixador Itinerante)?
– Nada, estou aqui, no Portinho!
– Portinho? Que coisa mais antiga!! Tu é um canalha, mesmo!! E nem me ligou!!
– Vim aqui apenas para comprar umas telas, na certa roubadas, que uns argentinos me ofereceram para fazerem parte da Fundação Alfredo Octávio de Cultura e Arte (um suntuoso prédio nos Jardins, em São Paulo);
– Canalha!…
– Chega, estou te ligando por outro motivo.
– Fala, mas antes só te digo que estou ainda esperando as passagens para conhecer o teu paraíso no Burundi.
– Meu amigo, li hoje, como faço sempre, o teu jornalzinho na internet. Gostei muito dessa reunião dos futebolistas em Santiago do Chile. Estou louco de vontade de ir lá! Tenho curiosidade para ver o que vai fazer essa gente. Porque eles estão lá escondidos!! Deve rolar muita festa!!
– Olha, legal, vou ter que conseguir um patrocinador para pagar as passagens e a suite no hotel em Santiago.
– Ai, meu Deus, meu agente já providenciou tudo. Só queria o teu aval. Fui!!
E desligou o telefone
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Pensei: Seja o que Deus quiser!
Não pretendia mais me meter com essa gente, porque tenho uma boa noção do caráter de alguns.
Mas já que o Alfredo Octávio quis ir, não me preocupei.
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Hoje de manhã recebo um e-mail do meu espião na
“Meu amigo José Luiz,
Não foi difícil encontrar o hotel onde está hospedada a gauchada. Meu agente descobriu facinho. Uma balbúrdia só, como vocês dizem, uma baixaria. Fui direto do Aeroporto de Pudahuel ao Hotel. Meu agente tinha razão: que gente barulhenta!
Fui direto para a minha suite deixar as malas. Aproveitei para espichar as pernas e sorver uma Perrier que, esperto, levei na minha bagagem. Coloquei uma roupa mais simples, de acordo com aquela gente, e desci para o saguão. Lépido, como todo turista brasileiro. Arghhh!!!
Dissimulado como sempre, sentei em uma poltrona onde conversava um grupo típico de gaúchos. Sabe? Com roupas que recém sairam da embalagem. Tinha um que havia deixado a etiqueta na camisa. Perfumes horrorosos.
Comecei a folhear um El Mercurio e prestar atenção na conversa dos sujeitos.
Um deles, sorrindo, diz assim:
– Mas, bah!, o que estamos fazendo aqui mesmo? Bah, vou tomar muito vinho e vamos ver os passeios que vão nos apresentar.
Aí ressalto o que um deles, que estava na roda, disse:
Meu Deus, esses caras não estão nem aí!!
Pensei: Esse é um Brasil que não conheço mais, ninguém tem mais vergonha de nada!!
Me distraí, até que me chamou a atenção o que falava uma mulher, com voz do interior:
Não aguentei mais.
Deixei o El Mercurio e fui para o bar, tentar sorver um Royal Salute.
Não tinha.
Pedi ao barman um 12 anos, qualquer marca.
Sentei numa mesinha ao lado de três sujeitos, que também pareciam gaúchos de roupa nova.
Acionei o meu gravador.
Reproduzo uma parte da conversa:
Tomei de uma só vez aquela dose e me levantei. Não ia aguentar aquela conversa de pobre corrupto.
Fui para a frente do hotel.
Três sujeitos cercavam um cara melhor vestido. Mas de longe dava para ver que eram também gaúchos Não pude escutar toda a conversa, por causa do barulho dos carros, mas anotei isso:
Peguei a chave de volta na recepção e zarpei para a suite. Não suportei mais aquela gente.
Quando tiver paciência, te escrevo de novo.
Beijos.
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Demorei para postar esse Bom Dia! porque estava tentando conversar como AlfredoOctávio.
Mas foi inútil. A telefonista só me dizia que “el señor no contesta”. Os celulares dele estavam desligados.
O cara se irritou, mesmo, com a gauchada.
Pudera, está fora da terra há décadas!!
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Se ele mandar mais algum e-mail, publico durante o dia ou no final de semana.
